A casa-pátio de Goa: um estudo para a sua recuperação

Abstract

Introdução - A cultura de Goa caracteriza-se pela sua singular capacidade aglutinadora, onde a par de percursos mais estritos, coexistem outros mais permeáveis, onde por meio de expressões populares, eruditas, religiosas ou pagãs se encontram e se manifestam condições e formas de vida. A arquitectura como as artes plásticas e decorativas, a música, a culinária, foram e são ainda hoje testemunho vivo dessas realidades pelo que importa animar em permanência todos os seus dinamismos. Animar significa aqui, identificar as suas características e actualizá-las para que sirvam e representem a consciência individual e colectiva da sua comunidade. A arquitectura é em qualquer lugar, a expressão concentrada dos três vectores essenciais de uma sociedade: o religioso, o socio-político e o económico. Do palácio à cabana, a localização, o programa, os materiais, as tecnologias, a ocupação são sinais indeléveis e inequívocos de quem os usufrua. Incidimos o nosso estudo sobre a arquitectura doméstica. Onde radicam os valores das pessoas, onde "... se concentra e afirma multa da expressão "íntima" e do entendimento profundo do espaço pela comunidade, ou seja, de como esse colectivo "sente" que deve usar o -espaço.", onde se cruzam espontaneamente as influências da arquitectura popular com a erudita e por consequência de valores e de técnicas que se aceitam como complementares ao mesmo tempo que se expressam as vicissitudes das épocas e dos poderes. Acreditamos na arquitectura doméstica de Goa como um elemento integrante da sua paisagem sujeita a acelerados processos de descaracterização, pelo que se considera imperativo o seu registo, reconhecimento e divulgação. Detivemo-nos nas casa-pátio pelo seu carácter universalista, transcivilizacional, mas também pela sua persistência como modelo de charneira e pela sua capacidade de marcar as habitações dos cristãos, abrindo caminho a um modelo autenticamente miscigeno. A esta escolha não foi naturalmente alheia a exequibilidade do trabalho, tendo em conta a limitação das visitas e o facto de não existirem registos, documentação ou levantamentos gráficos das casas. Um estudo sobre as casas de Goa será sempre incompleto enquanto não houver um inventário oficial, rigoroso na informação, credivel e abrangente em termos tipológicos e geográficos. Procurando suprir esta lacuna definimos um universo de estudo e elaborámos o nosso próprio inventário, que apresentamos como ANEXO I, privilegiando a análise morfológica e construtiva das casas. Entendendo as casas como o resultado de relações sociais, complexas e ambíguas, quantas vezes inter-culturais e a respectiva recuperação como a sua interpretação, pelo que era imperativo fazer uma aproximação histórica-geográfica-arquitectónica do modelo.