O jardim das plantas: Corpo, história e uso na sedução dos jardins temáticos

Abstract

Um jardim, enquanto concepção humana, pode ser feito do que se quiser, de forma que devemos começar por notar que nem todos os jardins são jardins de plantas. No entanto, os jardins de plantas são os primordiais e, sem dúvida, os mais habituais de modo que à ideia de jardim tende a associar-se imediatamente a ideia de plantas como seus elementos constitutivos. Com uma história que remonta provavelmente aos primórdios do sedentarismo, os jardins de plantas reúnem uma colecção infinitamente variável de corpos vegetais. Neles cada planta é um corpo vivo que se altera e modifica com o passar do tempo. Corpo com características próprias, necessidades, exigências, dimensões, potencialidades, estética, aromas e cores. Mas, para além disso, cada planta é ainda um ser de múltiplas valências a que geralmente se associa uma simbologia, uma história e um uso real ou potencial. Actualmente, numa época em que cada vez mais se valoriza a cultura e adquirem especial valor os aspectos distintivos de cada cultura, a dimensão cultural ganha pertinência também no jardim. Além de gostarmos de fruir do jardim, gostamos cada vez mais de conhecer os seus mistérios e os mistérios das plantas que nele se encontram. Neste aspecto, os jardins botânicos deram uma primeira contribuição para o desenvolvimento da curiosidade e gosto do público pelas plantas, patenteando verdadeiras novidades botânicas, provenientes de locais exóticos, de todas as partes de um mundo em descoberta. Neste primeiro desvendar do mistério das plantas, estas surgem acompanhadas por pequenas placas informativas. Não é porém de grande valor para um público não especializado, a informação patenteada. Em geral apenas os nomes, vulgares e científicos, uma família botânica definindo afinidades e parentescos obscuros para o homem comum e uma origem geográfica. O público actual tem vontade de saber mais, de conhecer também a história e os usos de cada planta do jardim, os seus pequenos segredos. Assim, os jardins temáticos, com informações diversificadas sobre as plantas nele presentes, ganham pertinência na conjuntura actual. Não se tema porém que informação e plantas possam dominar completamente um tal jardim pois este, no seu conjunto, será sempre mais do que a soma das partes, mais do que uma mera colecção de plantas e saberes e ganhará inevitavelmente vida própria como qualquer outro jardim. A etnobotânica é assim vista como elemento de valorização e de atracção nos jardins públicos em geral e nos jardins temáticos em particular. No domínio dos jardins baseados no tema do uso dado às plantas, enfatiza-se o caso do uso tintorial, quase completamente esquecido mas que foi, até um passado não muito recuado, extremamente relevante em termos sociais, políticos e económicos. No sentido de ilustrar a sua importância histórica, será apresentada uma pequena selecção de plantas tintureiras historicamente relevantes em Portugal e referido o projecto “Jardim das Cores” que pretende dar corpo a um jardim temático de plantas tintureiras. Este projecto constitui uma proposta para o Alentejo, onde se encontra sedeado o GIEPCN (Grupo Interdisciplinar de Estudos sobre Pigmentos e Corantes Naturais) que a promove.