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http://hdl.handle.net/10174/11013
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Title: | Gerações e Papéis Familiares - Um Estudo sobre Famílias Alentejanas Residentes numa Freguesia de Setúbal |
Authors: | Covas, Maria das Mercês Cabrita de Mendonça |
Keywords: | Gerações Famílias alentejanas Famílias Conjuntura demográfica Família e papéis familiares |
Issue Date: | 1993 |
Publisher: | Universidade de Évora |
Abstract: | "Sem resumo feito pelo autor"; - As sociedades contemporâneas caracterizam-se por constantes transformações. De um modo geral os sociólogos atribuem este fenómeno aos avanços tecnológicos e processos de industrialização e urbanização. A mudança social entrou no quotidiano das sociedades do nosso tempo e ocorre tão rapidamente ao ponto de torná-las bastante complexas devido à pluralidade de situações possíveis e à coexistência de vários modelos. Os seus efeitos reflectem-se nos padrões de comportamento como consequência da adaptação aos novos contextos e/ou meios sociais. A família é, sem dúvida, um dos grupos onde mais se fazem sentir os efeitos da mudança social, nomeadamente ao nível das estruturas dos papéis familiares, proporcionando a emergência de novos tipos de família.
0 objectivo desta pesquisa consiste em analisar a estrutura dos papéis familiares relacionando-a com as formas de participação dos elementos da família no seu contexto social. Trata-se de uma pesquisa complexa, por penetrar numa área de estudo bastante delicada e por enfrentar algumas dificuldades metodológicas. Estas colocam-se principalmente na definição do próprio conceito de papel, no domínio das atitudes e no aspecto comparativo.
Em Portugal há poucos estudos que nos permitam avaliar a evolução dos papéis familiares e proceder à sua comparação segundo as diversas épocas e meios sociais. Com os elementos disponíveis é difícil conhecer o seu passado, tanto do ponto de vista histórico, como sociológico. Dispomos de algumas obras literárias mas temos de duvidar das descrições dos seus
autores, uma vez que estas não correspondem à atitude
científica própria do conhecimento sociológico. Além disso, existem
poucas pesquisas históricas que possam constituir fontes de base
seguras. A sua óptica nem sempre é idêntica ou focam assuntos de
interesse periférico ao que pretendemos realizar. A dificuldade
destas fontes coloca-se essencialmente ao nível da interpretação.
Perante tais circunstâncias seremos mais prudentes e objectivos se
limitarmos o nosso estudo ao período contemporâneo analisando as
famílias actuais sobre as suas atitudes, normas e comportamentos
respeitantes ao desempenho dos papéis familiares.
0 presente trabalho permite-nos distinguir o que se diz do
que se faz, ou seja, distinguir entre regras, modelos e normas,
por um lado, e as práticas, por outro. Partindo deste princípio,
seria ousado esboçar as situações do passado sem corrermos o risco
de cair na imaginação histórico-sociológica, o que em termos
comparativos nada adiantaria.
A sociologia contemporânea estuda os papéis familiares
inspirando-se nas abordagens sociológica, psicossociológica,
histórica e antropológica. Entre estas, a última tem a vanta
gem de situar uma cultura em comparação com outras revelando-nos que
a divisão sexual dos papéis é uma questão de ordem
cultural, sendo mínima a divisão baseada nas diferenças
biológicas. Os observadores e estudiosos de várias culturas
concluem que a realização das diferentes tarefas tem um
significado simbólico. Algumas são mais honoríficas do que
outras conferindo mais autoridade a quem as desempenha. A este
propósito Martine Segalen (1981) refere que os estudos sobre a
repartição das tarefas nas sociedades exóticas demonstram que os homens poderiam realizar todas as tarefas femininas, embora não o façam, e que as estritamente masculinas não ocupam todo o seu tempo (Segalen, 1981: 189). A mesma autora afirma que este comportamento verifica-se nas sociedades camponesas e na sociedade contemporânea. "A divisão do trabalho não se baseia em factores biológicos nem na igualdade. Quaisquer tarefas realizadas pelos homens são sempre definidas como mais honoríficas. Este aspecto é praticamente comum a todas as sociedades" (Segalen, 1981: 189).
Segundo este princípio não existe nenhuma sociedade onde homens e mulheres tenham total liberdade para escolher os papéis que gostariam de desempenhar. As tarefas consideradas de mais alto nível, que não exigem força física, como o controle, a direcção e a tomada de decisão são essencialmente masculinas. "Nas sociedades exóticas como nas sociedades industriais os homens opõem-se a que as mulheres realizem tarefas de alto nível e são muito reticentes em realizar as tarefas desempenhadas pelas mulheres" (Segalen, 1981: 189).
Ultimamente, habituámo-nos a admitir a ideia de que o actual estatuto da mulher melhorou devido ao seu maior envolvimento na vida activa. No entanto, algumas análises concluem o contrário, em determinados casos, confundindo, por vezes, as convicções pessoais sobre a mudança familiar e dos seus papéis. Estas contradições justificam-se, em parte, pela existência de poucas teorias no domínio dos papéis familiares. Além disso, as que se conhecem são maioritariamente de origem anglo-saxónica.
No que respeita à sociedade portuguesa, a análise dos dados de um inquérito elaborado pela Direcção geral da Família (1988) mostra-nos que em 59% das famílias portuguesas compostas por pai, mãe e filhos com menos de 15 anos, residentes no continente, a mulher trabalha com remuneração e em 32% delas as mulheres são domésticas. Entre as mulheres activas, 48% apontam as dificuldades financeiras como a principal razão que as leva a trabalhar fora de casa. Só 12% declaram que trabalham por gosto e apenas 9% mencionam que o trabalho lhes proporciona uma valorização pessoal. Note-se também que mais de metade das trabalhadoras declaram que com o mesmo vencimento preferiam estar em casa e 41% preferia trabalhar fora de casa. São as mulheres de status e níveis de instrução mais baixos que mais gostariam de ser domésticas. As restantes preferem trabalhar fora do lar, embora, mais de metade das activas (56%) se manifeste a favor de uma redução de horário para dedicar mais tempo à família.
Evelyne Sullerot (1977: 6-37) refere que ao longo dos anos são as próprias mulheres que se subestimam ao sublinharem frequentemente o aspecto negativo, inferior e constrangedor dos seus papéis, em vez de procurarem transformá-los num poder conscientemente organizado. Além disso, os estudos de atitudes demonstram frequentemente que muitas mulheres trabalhadoras justificam a sua situação não por uma apologia do trabalho, mas como crítica à vida no lar. Por outro lado, as domésticas justificam-se sobretudo por considerarem muito duras as condições das mulheres no mundo do trabalho, e não por uma |
URI: | http://hdl.handle.net/10174/11013 |
Type: | doctoralThesis |
Appears in Collections: | BIB - Formação Avançada - Teses de Doutoramento
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