O Bairro do Apeadeiro da Meia Praia: das arquiteturas vernáculas, às memórias do processo SAAL - uma proposta de reabilitação

Abstract

Sensivelmente trinta anos antes da revolução de Abril de 1974, chegou à Meia Praia, no concelho de Lagos, uma população que procurava trabalho a viver do mar e melhores condições de vida, do que as que tinham no local de onde provinham, Monte Gordo. As cabanas de colmo que construíram na duna, características de outros assentamentos piscatórios do litoral algarvio, atribui-lhes a alcunha de índios por parte da população de Lagos. Em 1974, com a criação do programa habitacional, Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL), contruíram-se então habitações de alvenaria, contanto com a participação da população neste processo, dando origem ao Bairro SAAL Meia Praia - Apeadeiro. Passados quase cinquenta anos, os habitantes deste bairro ainda aguardam o completar do projeto, e esperam a regularização do processo, não tendo sido concretizada até hoje, a posse do terreno aos habitantes. O Plano de Urbanização da Meia Praia, de 2007, prevê a desativação e demolição do bairro, fruto da sua proximidade para com o mar e com a duna, com o objetivo de renaturalizar a área por ele ocupada. Algo que se opõe ao facto de no limite nascente do bairro ter sido movida uma área significativa de duna para a criação de um campo de golfe. O objetivo desta dissertação é a elaboração de uma proposta de reabilitação que promova uma integração do bairro com a sua envolvente paisagística, ponderando a sua não desativação. Revelou-se necessário o enquadramento aos cenários que abrangem o objeto de estudo, analisando as gentes e o lugar, em contextos das ocupações de comunidades piscatórias em praias abertas, o território da Meia Praia e o papel do Arquiteto José Veloso no âmbito desta operação SAAL, onde esteve envolvida a população. Desta forma, fundamenta- -se uma atitude de proposta de projeto sobre o bairro, procurando uma valorização do mesmo, bem como para a forma como este se pode relacionar com o seu contexto, provocando uma reflexão acerca da sua existência e demostrando a possibilidade da sua permanência; - ABSTRACT: Meia Praia Apeadeiro neighborhood: from vernacular architectures, to SAAL process memories - a proposal for rehabilitation - Approximately thirty years before the April 1974 revolution, a population arrived in Meia Praia, in the municipality of Lagos, looking for work living off the sea better living conditions than those they had in the place where they came from, Monte Gordo. The thatched huts they built on the dunes, characteristic of other fishing settlements on the Algarve coast, gave them the nickname of Indians by the population of Lagos. In 1974, with the creation of a housing program, the Serviço de Apoio Ambulatório Local – SAAL (Local Ambulatory Support Service), masonry houses were built, with the participation of the population in this process, giving rise to the Bairro SAAL Meia Praia - Apeadeiro. Almost fifty years later, the inhabitants of this place still await for the project to be completed, and they are waiting for the process to be regularized, and until today, ownership of the land to the inhabitants has not yet taken place. The 2007 Meia Praia Urbanization Plan provides for the deactivation of this settlement, as a result of its proximity to the sea and the dune, with the aim of re-naturalizing the area it now occupies. Something that contrasts with the fact that in the eastern edge of the place a significant area of nearby dunes was moved to create a golf course. The objective of this dissertation is the elaboration of a rehabilitation proposal that promotes an integration of this community with its surrounding landscape, considering its non-deactivation. It was necessary to study the framework for the scenarios that encompass the object, analyzing the people and the place, in contexts of the occupations of fishing communities on open beaches, the territory of Meia Praia and the role of Architect José Veloso within the scope of this SAAL operation, where he was close to the population. In this way, an attitude of project proposal is based on the “community”, looking for an appreciation of it, as well as for the way in which it can relate to its context, provoking a reflection about its existence and demonstrating the possibility of its permanence.