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http://hdl.handle.net/10174/15424
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Title: | Revista militar (1849-1910): contributo para uma leitura de ciência e técnica em Portugal |
Authors: | Assis, José Luís |
Advisors: | Nunes, Maria de Fátima |
Keywords: | Revista militar (1849-1910) Ciência História (Portugal) Estudos históricos europeus |
Issue Date: | Jul-2002 |
Publisher: | Universidade de Évora |
Abstract: | A Revista Militar (1849 – 1910): Contributo para uma Leitura de Ciência e Técnica em Portugal constitui o grande tema deste estudo sobre um periódico militar de cariz marcadamente técnico, científico e literário. Da proposta de trabalho apresentada pela Professora Doutora Maria de Fátima Nunes relevamos em primeiro lugar o facto inédito deste estudo enquanto investigação e reflexão histórica no domínio da História da Cultura Portuguesa. Para o estudo da Revista Militar e em face desta apresentar a sua publicação ininterrupta optámos pelo estudo no período entre o início da sua publicação 1849 e 1910. Esta delimitação cronológica não deve ser entendida como um corte ou ruptura, mas trata-se de assinalar os primeiros momentos da evolução do periódico bem como o papel que ele desempenhou na divulgação científica e cultural em Portugal. A opção pelo século XIX, mais particularmente pelo período entre 1849 e 1910, é justificada na medida em que se trata de um período muito significativo da História de Portugal onde os militares tiveram um grande protagonismo na vida social, económica, cultural e política do país. O aparecimento da Revista Militar pode, segundo pensamos, dever-se a dois aspectos importantes: um que está relacionado com a própria sociologia da criação, isto é, tendência ou vanguarda, o segundo insere-se no domínio da sociologia da recepção, isto é destina-se a preencher uma lacuna, a satisfazer uma necessidade cultural do público, ou ao desejo de criar um espaço de divulgação de novas ideias e manter e lançar novos escritores. A história desenvolvida e fundamentada do envolvimento dos militares nas instituições de cultura bem como o seu contributo científico no desenvolvimento do país na segunda metade do século XIX tem permanecido praticamente «esquecido» ou «encerrado» nos arquivos, em algumas publicações da instituição militar e em alguns artigos. A investigação levou-nos a constatar que existe quase um «vazio» historiográfico em relação à problemática por nós estudada, deixando uma ideia pouco aproximada da sua importância e significado na sociedade portuguesa.
Este «vazio», embora não corresponda a uma ausência total de preocupação pelo assunto, integra-se num desconhecimento mais abrangente do papel do periodismo científico militar na obra de fomento científico na sociedade portuguesa. Esta problemática, do que nos foi dado investigar e de contactos que estabelecemos, ainda não constitui objecto de trabalho sistemático e profundo que nos permita sobre esta matéria obter premissas claras e sobretudo devidamente fundamentadas. Para o desconhecimento desta história tem, sem dúvida, contribuído o facto dos investigadores não se terem interessado pelas questões relacionadas com a instituição militar, particularmente no âmbito da História Cultural. Note-se que a historiografia internacional, espanhola e francesa, também ela é relativamente recente, embora mais antiga que a portuguesa que parece começar agora a despertar. Procuramos acompanhar durante este período a evolução interna do periódico e de toda a sua actividade jornalística em aspectos de estudo tão diversos como o da diversificação dos seus colaboradores (agentes), o da complexificação das técnicas e das linguagens o da diversidade dos temas e dos leitores. E através do estudo da história do periódico que melhor podemos conhecer a problemática da Revista Militar (1849-1910): Contributo para uma Leitura de Científica e Técnica em Portugal que enriquece o conhecimento sobre a sociedade, a política, ou mesmo a mentalidade da época, a segunda metade do século XIX em Portugal, na exacta medida em que a Revista Militar não era apenas espelho da instituição militar, mas agente cultural das vivências militares e civis da época. Um grupo de outras problemáticas norteou este trabalho: quem divulgou esse conhecimento técnico e científico? Que intencionalidade tinha essa produção cultural? Quais os grandes tópicos que a estruturaram? A que público se dirigia? A que expectativas culturais correspondia? Que função cultural e social desempenhou?. Estas e outras talvez mais particulares do que estas conduzem como é natural, o nosso estudo e que oportunamente atenderemos. Dentro da metodologia adoptada, pretendemos dar a conhecer a problemática que nos propomos estudar e, simultaneamente, oferecer uma série de pistas para futuras investigações, partindo da análise temática do periódico. Para a realização deste estudo, metodologicamente dividimos a investigação em quatro grandes partes. Na primeira abordagem começamos por definir o universo da Revista Militar referindo-nos às características físicas, à periodicidade, à estrutura redactorial, à
difusão geográfica, ás temáticas e aos géneros, à linguagem à orientação ideológica, política, social e à relação com o poder instituído e instituições científicas e de cariz jornalístico. O presente trabalho percorre as diversas tendências científico-literárias e implica o conhecimento do perfil desta elite (Fundadores, Redactores e Colaboradores) da Revista Militar ao longo deste período, o que pressupõe, como é natural, uma demora na consulta da diversa, fontes manuscritas e impressas e bibliografia. Os estudos dos autores aqui tratados, tornam-se, por ventura, mais compreensíveis quando inseridos na conjuntura cultural e científica. Estas representam de certa forma a conjuntura cultural e mentalidade histórica em que esses intelectuais se afirmaram. Procuramos sempre que possível situar historicamente os artigos e memórias elaboradas por cada um dos seus autores. Não descuramos ainda os aspectos singulares ou individuais, bem como a informação biográfica que nos permitiu elaborar as prosopografias essenciais para a compreensão e esclarecimento da intencionalidade e origem dos seus estudos científicos bem como a sua origem. Lidámos com personalidades e mecanismos responsáveis pela difusão, transmissão e polarização dos conhecimentos científicos difundidos pelos militares. Contudo, a investigação foi crescendo e suscitando renovado entusiasmo, não apenas pela abundância e riqueza da informação que ia sendo recolhida, mas também pelas perspectivas de trabalho que iam sendo abertas através de leituras e consultas sistemáticas da bibliografia, dos fundos e das fontes manuscritas e impressas. Depois de definidas as duas primeiras grandes etapas, impõe-se procurar esclarecer o itinerário temático seleccionado. O aprofundamento da problemática através das fontes no periódico constitui a base fundamental da nossa investigação. A selecção das temáticas a abordar levou a que se procedesse a uma escolha de acordo com o seu carácter técnico e científico e ainda com a necessidade e importância que poderiam ter tido no progresso da instituição militar e do próprio país. Vários são sempre os caminhos possíveis, e um corpus imenso, diríamos quase inesgotável, se nos deparou nesta investigação. Outros investigadores a eles poderão recorrer para o estudo das mais diversas áreas da História Cultural. Desde o início da investigação e, consequentemente, em simultâneo à selecção das fontes, colocou-se a das grandes áreas temáticas e científicas, correspondentes todas elas aos problemas centrais com que se confrontava o Exército e de maneira mais
abrangente a Nação e no período que delimitamos e dos grandes estudos que lhe deram expressão. Entre estes, partimos sempre do princípio da História Cultural para destacarmos: Medicina Veterinária, Geodesia, Telegrafia e Caminhos de Ferro que pela sua importância foram os que maior impacto tiveram em termos sociais, económicos culturais e políticos na sociedade portuguesa. Cada uma dessas temáticas configura uma matéria delimitada no próprio periódico e envolve fontes, metodologias e problemas muito diversos. O Corpus das temáticas extremamente vasto só de forma parcial podemos abordar. Qualquer uma dessas temáticas adquiriu uma projecção que podemos considerar muito significativa no desenvolvimento da instituição militar, do país e, consequentemente, na cultura portuguesa da Regeneração. Um dos objectivos do presente trabalho é o de procurar reunir elementos que nos permitam caracterizar o espírito histórico científico da escol intelectual que colaborou na Revista Militar durante esse período, ou ainda de que forma contribuiu no sentido de procurar caracterizar a intencionalidade historicista daquelas personalidades. Por fim, outro aspecto que nos mereceu particular atenção: relacionara Revista Militar com a promoção da Memória Histórica Nacional e verificar a importância dada pelo periódico quanto à Memória da Nação e da Pátria, o que levou à procura de uma explicação para essa atitude. Em nosso entender, essa explicação encontrava-se relacionada com as transformações que ocorreram na sociedade portuguesa, passando pelos conflitos — Guerra Peninsular, a prolongada Questão Ibérica, as Conferências do Casino, a Comemoração do Tricentenário da Morte de Camões, a Questão Colonial, a Comemoração do Centenário da Guerra Peninsular e o Congresso da Liga Naval Portuguesa. Foram todos momentos da nossa história a que a Revista Militar nunca deixou de prestar a devida atenção e de comentar nas suas páginas. Todas estas questões problemáticas pela sua natureza, contribuíram para a produção de argumentação histórica diversificada embora, como é natural, umas mais do que outras. E notório que esta elite de intelectuais procurou com essa argumentação criar uma nova forma de ligação entre indivíduo e Nação, militares e civis, procurando dessa maneira melhor evocar a memória de um passado glorioso e podendo fomentar a convergência e mobilização nacional. |
URI: | http://hdl.handle.net/10174/15424 |
Type: | masterThesis |
Appears in Collections: | BIB - Formação Avançada - Teses de Mestrado
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