Mário Silva. A obra de um professor

Abstract

Introdução - Embora inicialmente esta dissertação tivesse como objecto o estudo de «Os bolseiros da Junta de Educação Nacional e a investigação em Física tio Portugal dos anos trinta», rapidamente nos apercebemos da vastidão do tema, dentro do propósito da elaboração de uma dissertação de Mestrado. Daí que reduzíssemos a extensão do trabalho, contemplando o estudo da obra de um dos primeiros cientistas portugueses a desenvolver um trabalho continuado num dos laboratórios europeus de maior renome na Física Experimental, o Instituto do Rádio em Paris. Daí que o tema da dissertação se tenha circunscrito ao trabalho da figura de Mário Silva. Se a ideia que, de início, nos norteava era a análise da investigação em Física desenvolvida por este professor, num percurso chie se iniciava em Paris no ano de 1926 e se prolongaria na sua presença no Laboratório de Física da Universidade de Coimbra, o desenrolar do nosso trabalho levou-nos a inflectir a direcção inicial. Uma inflexão que correspondeu a uma maior atenção à sua actividade como professor. Julgamos deste modo ter justificado «MÁRIO SILVA, A OBRA DE UM PROFESSOR». A orientação da pesquisa de Mário Silva nos seus tempos do Laboratório Curie e aquela que procurou pôr em prática nos seus primeiros tempos de reinício da sua actividade de docente em Coimbra, inscreve-se claramente no estudo das descargas eléctrica em gases e da sua aplicação á detecção da radiação. Assim, apresentamos no capítulo 2, de uma forma sucinta, e privilegiando o relato histórico-científico, alguns dos marcos importantes da Física que conduziram ao modelo atómico da matéria e, em particular, o papel aí desempenhado pelo estudo das descargas eléctricas em gases. Procura-se compreender, nas suas linhas gerais, a marcha dos conhecimentos científicos que perspectivam o contexto da investigação que, no final da década de vinte, Mário Silva desenvolve no Laboratório Curie. Abordam-se os tópicos seguintes: a necessidade de um modelo atómico-molecular na representação das transformações químicas, bem como a aplicação deste modelo à explicação mecanicista da natureza; o papel desempenhado pelo estudo das descargas eléctricas ene gases na demonstração experimental da realidade atómica, o que é acompanhado de um modo paralelo pela descoberta da radioactividade; o prosseguimento experimental das descargas eléctricas em gases como instrumento determinante para a compreensão das propriedades da matéria. É neste último tema que julgamos filiar-se directamente o trabalho experimental de Mário Silva. No capítulo 3 procuraremos mostrar como o conhecimento das matérias abordadas anteriormente começaram a ser difundidos ou incorporados por uma parte do ensino universitário português, limitando-nos à Universidade de Coimbra e, em particular, ao grupo de professores da sua Faculdade de Filosofia que ministrava o ensino na área da Física e da Química. Enfatizámos algumas pistas históricas sobre as viagens científicas, tentando definir alguns traços que eventualmente nos conduzam à linha de pesquisa científica que a personagem central deste nosso estudo virá a desenvolver. A procura deste fio condutor histórico é muito difícil sobretudo pela ausência de qualquer trabalho de investigação associado ao ensino universitário português da época. Julgamos, contudo, que é possível identificar um certo esforço em estar a par com o que se fazia no estrangeiro no domínio da produção dos raios X e também no interesse pela radioactividade. No capítulo 4 iniciamos propriamente o nosso trabalho sobre Mário Silva. A par da apresentação de alguns aspectos biográficos que consideramos importantes para a definição da sua escolha de uma carreira científica, detemo-nos em seguida no seu trabalho de investigação científica em Paris. Neste capítulo concentramos a nossa atenção nos trabalhos científicos desenvolvidos no Laboratório Curie, incluindo as suas repercussões na comunidade científica internacional, o que termina com a apresentação da sua tese de doutoramento na Universidade de Paris cuja discussão esteve e cargo de Marie Curie e Jean Perrin. No capítulo 5 focalizamos a nossa atenção na actividade de Mário Silva após o eu regresso à Universidade de Coimbra até ao período em que é compulsivamente afastado da cátedra. A sua saída de Paris é forçada e, ao chegar a Coimbra, a sua actividade vai desenvolver-se, de imediato, em três frentes: a continuação da sua investigação, a Instalação do Instituto do Rádio em Coimbra e o ensino. A investigação vai ter uma duração muito curta e o Instituto do Rádio não passará de projecto que os poderes públicos rapidamente se encarregaram de inviabilizar; o ensino assumirá assim um papel preponderante em toda a sua actividade. O seu interesse pelo velho Gabinete de Physica da Universidade Pombalina leva-o, nos finais dos anos trinta, a desenvolver um trabalho em História da Ciência, procurando recuperar a memória do primeiro Gabinete de Física Experimental, criado pela reforma de Pombal, constituindo o Museu Pombalino. E é já nos anos quarenta, reatando velhos contactos dos tempos de Paris, que acalenta a ideia de fixar em Coimbra algumas figuras importantes da Física contemporânea de então de modo a ensaiar o ensino da Física Teórica. Terminamos este capítulo com um apontamento sobre o cidadão Mário Silva, espécie de apogeu da sua actividade de professor, que terminaria com a sua demissão compulsiva em 1947. Um período em que a fúria e a injustiça do regime salazarista expulsaram dos seus cargos vinte e um professores universitários de reconhecido prestígio, entre os quais Mário Silva. Estava-se então em pleno período do pós-guerra, o vazio que assim se criou nas Universidades portuguesas, como observou Rómulo de Carvalho (Carvalho, Rómulo; 1986), teve graves consequências no ensino e na formação universitária durante algumas décadas. No capítulo 6 apresentamos uma síntese conclusiva final do trabalho onde muito dificilmente extrairemos conclusões.