O desenvolvimento sustentável no Concelho de Mértola: estudo exploratório no âmbito da ecologia humana

Abstract

Introdução - "Dés qu'il est conçu come global, le developpement ne peut plus être I'extension directe du monde entier des connaissances, modes de pensée, modes de vie aux experiences propres à une seule region du globe; il faut mettre chague developpement locai en relation avec ses valeurs et sa culture propres" M. Amadou - Mahatar M Bow (frase proferida por ocasião da 14ª sessão da Comissão Económica para África, Março de 1979). A temática em foco gravita em torno do conceito de "desenvolvimento. O seu carácter multivariado e a inexistência de casos paradigmáticos que ilustrem um ideal, favorecem as opiniões de certos autores que consideram algo de utópico. 0 conceito de "desenvolvimento" que tem predominado nas sociedades emergentes da Revolução Industrial assenta no crescimento económico e no sucesso material, menosprezando as dimensões social, cultural e ecológica. Os equívocos e mitos do passado estão a ceder o lugar a novas lógicas. Cada vez 7 está mais aberto à interdisciplinaridade, à análise integrada e sistémica, às dimensões ambiental, cultural, à valorização do seu sentido humano. A capacidade de escolha entre opções diferentes é de primordial importância para melhorar o bem estar humano, isto é, "o que é decisivo não é o processo de maximização da riqueza, mas as escolhas dos indivíduos e das sociedades" (i ~. Muitos países, "possuem PNB per capita elevado e índices de desenvolvimento humano baixos e vice-versa» 0 próprio IDH do país pode ocultar muitos problemas. A solução passa pela utilização de diferentes IDH desagregados, por exemplo, por sexo, grupos de rendimento, região geográfica, grupo étnico. A liberdade, os direitos do Homem, a "contabilidade ecológica", as raízes culturais, apresentam uma certa dificuldade em se integrarem no IDH. 0 conceito de desenvolvimento humano é muito mais vasto e rico que a imagem quantitativa dada por qualquer índice ou conjunto de indicadores. 0 conceito de "desenvolvimento sustentável" surgiu da Comissão Mundial para o Desenvolvimento, que elaborou os seus princípios fundamentais em 1987, ficando estes conhecidos como "Declaração de Tóquio". Esta Comissão definiu-o como um processo de mudança orientada, em que a exploração dos recursos, o sentido dos investimentos, o norteamento do desenvolvimento tecnológico e as mutações institucionais estão todos em harmonia e incrementam a capacidade presente e futura de dar satisfação às necessidades e aspirações humanas. Na Cimeira da Terra (Eco 92) foi feito um diagnóstico do planeta Terra e apontada a solução do desenvolvimento sustentado, no entanto, entre as intenções e a realidade erguem-se grandes barreiras... Enquanto à escala mundial ainda se mantêm as velhas premissas económicas, começam a surgir algumas experiências embrionárias, especialmente em áreas com sérios problemas humanos e ecológicos. Contudo o percurso apresenta-se cheio de encruzilhadas, desvios, recuos, resistência, a par de episódios de avanços e inovações. Estas iniciativas de desenvolvimento local podem "desempenhar um papel fundamental na busca de um novo conceito de Desenvolvimento, ou seja de libertação dos constrangimentos e envolvimentos que impedem a plena realização da Humanidade, nas suas vertentes individual, social e ambiental" (Rogério Roque). Esta dissertação visa a exploração da temática da sustentabilidade, dando continuidade ao estudo já efectuado, no âmbito da Ecologia Humana: "Desertificação e dinâmica populacional no concelho de Mértola" ( 1990 ), onde estão salientes os mecanismos que conduziram aos desequilíbrios ecológicos. A Ecologia Humana apresenta um perfil adequado para abordar a temática do desenvolvimento sustentado, quer pela posição que ocupa no conjunto das ciências naturais e humanas, quer pela metodologia prospectiva. "Na realidade, não existem problemas económicos, sociais, ecológicos, psicológicos, etc. mas simplesmente problemas que são mistos e complexos" (Myrdal, 1975) . Assim, justifica-se a prática da multidisciplinaridade onde as análises quantitativas e qualitativas se complementam para uma percepção mais aproximada da realidade, poliedro de múltiplas faces. Assim, em função do exposto, no capítulo introdutório, faz-se uma breve alusão às mudanças no conceito de desenvolvimento e, consequentemente ao emergir, na década de 80, do conceito de desenvolvimento sustentável que integra factores ambientais, sociais, culturais . Neste contexto insere-se o trabalho a realizar no concelho de Mértola, na perspectiva da Ecologia Humana. No primeiro capítulo apresentam-se os grandes conceitos integradores do tema, uma forma de familiarizar o leitor com os alicerces teóricos da temática, fornecendo-lhe elementos para dilatar a sua capacidade crítica. Faz-se uma viagem através do processo evolutivo da Ecologia e seguidamente apresentam-se as linhas orientadoras do desenvolvimento sustentável que se inserem no domínio da Ecologia Humana, pelos princípios apresentados e pela metodologia prospectiva que as análises suscitam. No segundo capítulo faz-se uma caracterização ecológica do concelho nas suas vertentes natural e humana. Esta abordagem deve ser vista duma forma interactiva e globalizante, favorecendo as múltiplas correlações entre as variáveis componentes. No terceiro capítulo apresentam-se alguns projectos e iniciativas locais, inseridos no âmbito do desenvolvimento sustentado do concelho de Mértola, analisados na perspectiva da Ecologia Humana.