Estrutura de uma Geotransversal Entre Brinches e Mourão (Zona de Ossa-Morena):Implicações na Evolução Geodinâmica da Margem Sudoeste do Terreno Autóctone Ibérico

Abstract

"Sem resumo feito pelo autor"; Neste trabalho apresenta-se um modelo para a evolução geodinâmica, durante o ciclo varisco, do sector sul da Zona de Ossa-Morena (domínios de Évora-Beja e de Estremoz-Barrancos), baseado fundamentalmente na cartografia estrutural de pormenor, realizada ao longo de uma geotransversal no Vale do Rio Guadiana. Este sector corresponde à margem do Terreno Autóctone Ibérico e a sua evolução durante o período orogénico, encontra-se intimamente relacionada com os mecanismos de fecho do oceano varisco, actualmente materializado pela linha de sutura associada ao Complexo Ofiolítico de Beja-Acebuches e à Unidade do Pulo do Lobo. O Domínio de Estremoz-Barrancos, mais afastado da sutura, corresponde ao andar estrutural superior. Apresenta uma deformação menos acentuada, mais tardia, metamorfismo de baixo ou muito baixo grau e sequências sedimentares mais completas, culminando com o "flysch" da Formação de Terena, depositado já durante a fase orogénica. O Domínio de Évora-Beja, situado junto à sutura, foi deformado em andar estrutural inferior. Apresenta mais fases de deformação, a tectónica é mais precoce, o metamorfismo atingiu a fácies dos xistos azuis, mesmo a eclogítica no sector oeste deste domínio. As sequências, presentes em vastas regiões, correspondem a uma imbricação tectónica de unidades parautóctones com mantos alóctones, em parte correspondentes a terrenos exóticos, interpretados como fragmentos ofiolíticos obductados sobre a Zona de Ossa-Morena. Esta zona de imbricação coincide aproximadamente com o conjunto que, em trabalhos anteriores, é designado por "Formação dos Xistos de Moura". De acordo com o modelo que defendemos, este conjunto representa um "melange" tectónico, separando as formações autóctones ou parautóctones dos mantos ofiolíticos que, durante o processo de obducção, terão coberto praticamente todo o Domínio de Évora-Beja. As fases de deformação presentes na região estudada são directamente relacionáveis com os mecanismos de obducção e subducção nesta fronteira de placas e com o escape lateral da Zona de Ossa-Morena, de uma posição frontal no arco Ibero-Armoricano, para a região meridional que actualmente ocupa. Caracterizou-se a geometria e cinemática das várias fases de deformação e estabeleceu-se a sua cronologia relativa. Os mecanismos de subducção e obducção, ao actuarem sincronicamente, indicam a existência de uma geometria do tipo "flake" tectónica no bordo sul da Zona de Ossa-Morena. Não é claro o prolongamento desta estrutura para noroeste. Existem contudo evidências para que no bordo oeste, a subducção tenha actuado desde uma fase bastante precoce, com importante componente transcurrente esquerda associada. A Tectónica oblíqua associada a esta fronteira é responsável por um estilo de deformação com características particulares, que designámos por transpressão tangencial. No modelo apresentado neste trabalho, associamos ainda o metamorfismo de alta pressão a fenômenos de sobrepressão tectónica, relacionados com a geometria geral da fronteira de placas e com os mecanismos de deformação particulares, associados, que actuaram sobre todo este sector. ABSTRACT In this work, we present a model for the geodynanic evolution of the Ossa Morena Zone south branch (Évora-Beja and Estremoz-Barrancos domains), supported by detailed structural mapping, along a geotraverse in the Guadiana Valley. This sector corresponds to the boundary of the Iberian Autochthonous Terrane and shows a tectonic evolution directly related with closure of the variscan ocean, corresponding to the suture associated to the Beja-Acebuches Ophiolitic Complex and Pulo do Lobo Unit. The Estremoz-Barrancos domain, far froco the suture, represents the upper structural levei. In this domain, the deformation is lesa intense and younger, the metamorphic grade is lower (low or very low-grade) and the sedimentary sequences are complete, ending with the Terena flysch, which represents a sin-orogenic deposit. The Évora-Beja domain, near the suture, was deformed in lower structural levei. This domain is affected by more deformation phases, the overa11 tectonics are earlier, the metamorphic peak reaches the blueschist facies, regionally and the eclogitic facies in the western boundary. In vast regions, the tectonostratigraphic sequences are consistent with a tectonic imbrication of units with Ossa-Morena affinities and exotic terranes, interpreted as ophiolitic fragmenta. This imbrication zone corresponds to the "Xistos de Moura" Formation, described and mapped in previous works. According to the present model, the "Xistos de Moura" Formation is a tectonic "mélange", separating autochthonous and parautochthonous formations from an ophiolitic nappe which probably once covered the whole Évora-Beja domain. In the studied sector, the deformation events are directly related with obduction/subduction mechanisms, along this destructive plate margin, and also, with the lateral escape of Ossa-Morena Zone from a frontal region in the Ibero-Armorican arc, to the present position. We describe the geometry and kinematics of all deformation events and also they relative chronology. The syncronic obduction/subduction processes, suggest a flake-type geometry that has not been confirmed in the west boundary of the Ossa-Morena Zone. Nevertheless, in this boundary, there is some evidence of an earlier subduction process, with an important sinistrai transcurrent component. This oblique tectonics is responsible for a peculiar deformation regime, that we call "tangential transpression". According to the model presented herein, the high pressure metamorphism in. the Évora-Beja domain denotes a tectonic overpressure, related with the general geometry of the plate boundary and the specified associated tectonic regime.