Estratégia para a Micorrização por Fungos Micorrizicos Arbusculares de Plantas de Eucalipto Produzidas em Viveiro

Abstract

A produção de mudas de Eucalyptus globulus enfrenta desafios consideráveis no contexto florestal português, especialmente durante a fase de transplantação do viveiro para o campo, momento em que ocorre o denominado choque de transplantação. Esse fenómeno compromete frequentemente o enraizamento, a sobrevivência e o crescimento inicial das plantas, principalmente em solos pobres ou sujeitos a stresse abiótico. Uma alternativa sustentável e promissora para mitigar este problema consiste na utilização de fungos micorrízicos arbusculares (AMF), que estabelecem simbioses benéficas com as raízes das plantas. Os AMF promovem melhorias fisiológicas e nutricionais, como a eficiência na absorção de fósforo, a tolerância ao stresse hídrico e a fotossíntese. Este estudo teve como objetivo avaliar os efeitos da micorrização precoce em mudas de eucalipto produzidas em viveiro, por meio do uso de plantas “Developer” (Lolium multiflorum e Ornithopus compressus), capazes de desenvolver uma rede micelial extrarradicular (ERM) no solo antes da introdução das estacas de eucalipto. Foram comparados cinco tratamentos distintos que variaram quanto à presença de diferentes plantas “Developer”, e após a destruição da sua biomassa aérea, à perturbação ou não para verificação o efeito do ERM na colonização das jovens plantas de eucalipto e seu desenvolvimento. Para além da taxa de colonização micorrízica, avaliaram-se vários indicadores morfológicos (altura e peso seco das plantas, comprimento e peso fresco das raízes) e fisiológicos (Fv/Fm, índice de performance fotossintética e teor de clorofila). Os resultados mostraram que os tratamentos com micorrização precoce, especialmente aqueles em que o ERM foi mantido intacto (sem perturbação do solo), apresentaram maiores valores nos parâmetros fisiológicos, indicando plantas mais bem preparadas para suportar condições adversas. No entanto, os melhores resultados morfológicos foram observados no tratamento controlo, sem qualquer tipo de micorrização, sugerindo que os benefícios fisiológicos da simbiose ainda não se haviam traduzido em ganhos de crescimento visível no curto prazo. Este trabalho evidencia o potencial da micorrização precoce para fortalecer a resiliência das plantas e destaca a importância da manutenção da integridade do solo e da rede micelial no sucesso da inoculação. A sua aplicação em viveiros florestais pode representar uma estratégia ecológica eficaz para aumentar a sustentabilidade, reduzir o uso de fertilizantes e melhorar a taxa de sobrevivência das mudas após o transplante.