Saúde docente: estudo da influência de variáveis organizacionais e pessoais

Abstract

Nas últimas décadas, a saúde dos professores tem sido alvo de crescente interesse nas Ciências da Educação, devido ao seu impacto na qualidade do ensino e no sucesso escolar dos alunos. A profissão docente caracteriza-se por um elevado grau de exigência e complexidade, resultante das constantes mudanças sociais. Neste contexto, este estudo procura analisar a influência das variáveis organizacionais, nomeadamente a saúde organizacional, e das variáveis pessoais, como o otimismo, na saúde dos professores em Portugal. Este estudo, estruturado em artigos científicos, utilizou uma metodologia quantitativa com recurso a análise de modelos de equações estruturais. Foram validados o Questionário de Saúde docente (QSD) e a Escala de Perceção de Saúde organizacional (EPSaO) para o contexto escolar, que nos permitiram fazer uma avaliação da saúde docente e da organização escolar, respetivamente. Reconhecendo a complexa relação entre estas variáveis que afetam a saúde dos professores, desenvolveu-se um estudo para validar um modelo que integra o otimismo como mediador da relação entre a saúde da organização escolar e as diversas dimensões da saúde dos professores. Os resultados destacam as boas propriedades psicométricas dos instrumentos. As análises fatoriais revelaram uma estrutura de cinco fatores para a saúde docente: bem-estar profissional, esgotamento, distúrbios cognitivos, distúrbios musculoesqueléticos e alterações da voz. Mais de metade dos professores enfrenta problemas de saúde, especialmente as mulheres do ensino público, a lecionar no 1º CEB, acima dos 50 anos e mais de 21 anos de serviço. No que se refere à saúde organizacional, foi comprovada uma estrutura trifatorial: integração de pessoas e equipas, flexibilidade perante as exigências externas e conhecimento dos objetivos. As mulheres no ensino público, do 3.º CEB/Secundário, acima dos 50 anos e 21 ou mais anos de serviço, percecionam níveis mais baixos de saúde organizacional. A análise de clusters ofereceu uma solução a três grupos (alto, médio, baixo) para os dois construtos estudados. Os resultados do estudo do modelo de mediação simples revelam que a saúde organizacional e o otimismo estão positivamente associados ao bem-estar dos professores e negativamente relacionados ao esgotamento e a outras dimensões de saúde, com o otimismo a mediar esta relação. São discutidas as explicações e implicações práticas destes resultados, assim como as limitações da investigação. São apresentadas sugestões para estudos futuros e orientações para o desenvolvimento de programas de intervenção holísticos que promovam a saúde dos professores e da organização escolar; - Abstract: In recent decades, teachers' health has become a topic of growing interest in the field of Educational Sciences due to its impact on the quality of teaching and student academic success. The teaching profession is characterized by a high degree of demand and complexity, resulting from constant social changes. In this context, this study aims to analyse the influence of organizational variables, namely organizational health, and personal variables, such as optimism, on the health of teachers in Portugal. This study, structured as a series of scientific articles, employed a quantitative methodology using structural equation modelling. The Teacher Health Questionnaire (THQ) and the Perceived Organizational Health Scale (POHS) were validated for the school context, enabling an assessment of both teacher health and school organization health. Recognizing the complex relationship between these variables that affect teachers' health, a study was conducted to validate a model that integrates optimism as a mediator between school organizational health and various dimensions of teacher health. The results highlight the strong psychometric properties of the instruments. Factor analyses revealed a five-factor structure for teacher health: professional well-being, burnout, cognitive disorders, musculoskeletal disorders, and voice disorders. More than half of the teachers reported health issues, particularly women working in public schools, in the 1st Cycle of Basic Education, over 50 years old, and with more than 21 years of service. Regarding organizational health, a three-factor structure was confirmed: integration of people and teams, flexibility in response to external demands, and knowledge of goals. Women in public education, in the 3rd Cycle/Secondary Education, over 50 years old, and with 21 or more years of service, perceived lower levels of organizational health. The cluster analysis identified three groups (high, medium, and low) for both constructs studied. The results of the simple mediation model showed that organizational health and optimism are positively associated with teachers' well-being and negatively associated with burnout and other health dimensions, with optimism mediating this relationship. Explanations and practical implications of these findings, as well a research limitation, are discussed. Suggestions for future research and guidelines for the development of holistic intervention programs that promote both teacher health and school organizational health are presented.