Saberes Verdes: Plantas e Tradições das Boticas Conventuais de Portugal

Abstract

Com a extinção das Ordens Religiosas em Portugal, em 1834, foram efetuados inventários nas boticas conventuais com o objetivo de dar a conhecer os patrimónios dos mosteiros, conventos e casas religiosas. Entre os bens inventariados do património móvel, destaca-se o conteúdo das boticas — espaços destinados ao armazenamento e à produção de medicamentos (de origem vegetal ou não), tanto para os religiosos como para as populações externas às cercas conventuais. Diversos documentos relacionados ao espólio botânico dessas boticas foram analisados, revelando uma grande variedade de drogas vegetais oriundas de várias regiões do mundo. O presente trabalho propõe-se a analisar a riqueza das espécies medicinais e aromáticas utilizadas à época. Para isso, foram utilizados os registos de casas religiosas das ordens Carmelita (conventos de Nossa Senhora dos Remédios em Évora e de Nossa Senhora do Carmo em Viana do Castelo) e cisterciense (mosteiro de Alcobaça). Com base na documentação consultada, realizou-se um levantamento de 186 espécies vegetais utilizadas nesse período. Durante a elaboração da listagem, enfrentaram-se diversas dificuldades, como a decifração da grafia manuscrita antiga, a atualização dos antigos nomes científicos em latim e a identificação dos usos dos espécimes. Alguns nomes comuns antigos foram atualizados para o uso atual, e, a partir das áreas geográficas naturais das espécies vegetais, foi possível classificá-las segundo prováveis grupos de proveniência.