Experiência criativa artística e modalidades de subjetivação em contextos de institucionalização

Abstract

Neste estudo apresentamos os resultados de uma investigação empírica em torno da experiência criativa artística e das modalidades de subjetivação dos artistas que se encontram num contexto de institucionalização. Para tal, desenvolvemos uma pesquisa etnográfica no Centro de Apoio Social do Pisão e no Estabelecimento Prisional do Linhó, instituições onde, respetivamente, se dinamiza um atelier de pintura frequentado por indivíduos com doença mental severa e se implementou um projeto de dança contemporânea, o CORPOEMCADEIA, junto de um grupo de reclusos. Com base nos dados produzidos através de observação direta, e partindo das orientações teóricas das sociologias pragmáticas, designadamente do modelo dos regimes de engajamento, e subsidiando-as com contributos fenomenológicos e hermenêuticos, propomo-nos atingir os seguintes objetivos gerais: (i) definir a especificidade do engajamento criativo artístico e das modalidades de subjetivação aí desdobradas, (ii) rastrear as suas semelhanças e diferenças relativamente aos demais regimes já conceptualizados e, finalmente, (iii) apurar os modos através dos quais tal engajamento participa com estes em composições plurais, carentes de ajustes e reajustes práticos e situados. Nesse sentido, averiguamos os modos de envolvimento na ação dos artistas durante a criação e em torno das suas obras, sublinhando o seu relacionamento com o meio ambiente, com os outros e de si consigo próprio. Concluímos que o engajamento criativo artístico não coincide com nenhum dos restantes, revelando dependências práticas com o ambiente, formatos de reflexividade e modos de julgamento moral específicos, bem como modalidades de subjetivação que desdobram capacidades práticas, cognitivas e morais próprias. Concluímos ainda que para que a experiência criativa artística fecunde o engajamento criativo carece, todavia, de se compor com os regimes de engajamento em familiaridade, em plano, de justificação, em presença e exploratório, constituindo as atividades artísticas um espaço intercalar em cujas avenidas se desenvolve a subjetivação dos artistas em contexto de institucionalização; Abstract: Artistic creative experience and modalities of subjectivation in contexts of institutionalisation In this study we present the results of an empirical investigation into the creative artistic experience and the modalities of subjectivation of artists in a context of institutionalisation. Thus, we carried out ethnographic research at the Social Support Center of Pisão and the Linhó Prison Establishment, institutions where, respectively, a painting studio is frequented by individuals with severe mental illness and a contemporary dance project, CORPOEMCADEIA, is implemented with a group of prisoners. Based on the data produced through direct observation, drawing on the theoretical guidelines of pragmatic sociologies, namely the model of regimes of engagement, and subsidising them with phenomenological and hermeneutic contributions, we aim to achieve the following general objectives: (i) to define the specificity of artistic creative engagement and the modalities of subjectivation unfolded therein, (ii) to trace its similarities and differences in relation to the other regimes already conceptualised and (iii) to ascertain the ways in which such engagement participates with them in plural compositions, in need of practical and situated adjustments and readjustments. In this sense, we investigated the ways in which artists engage in action during the creation and with regard to their works, emphasising their relationship with the environment, with others and with themselves. We conclude that artistic creative engagement does not coincide with any of the other regimes of engagement, revealing practical dependencies with the environment, specific reflexivity formats and of moral judgement, as well as modalities of subjectivation that unfold their own practical, cognitive and moral capacities. We also conclude that in order for the artistic creative experience to be fruitful for creative engagement, it needs to be composed of the regimes of engagement of familiarity, plan, justification, presence and exploration, with artistic activities constituting an intermediary space in which path the subjectivation of artists in a context of institutionalisation develops.