RECONSTRUÇÃO PALPEBRAL BEM-SUCEDIDA E REPARO INFRAORBITAL USANDO UMA TÉCNICA DE RETALHO DE MUSTARDÉ EM UM CÃO

Abstract

Introdução A complexidade das alterações palpebrais exige do cirurgião amplo conhecimento anatómico e domínio de várias técnicas cirúrgicas para o tratamento bem-sucedido1,2. A técnica de Mustardé é usada na medicina humana para reconstruir defeitos que envolvem muita ou toda a pálpebra inferior e região infraorbital3. Tecnicamente, consiste num grande retalho de avanço da rotação da pele da bochecha, realizado em um único tempo cirúrgico4. Objectivos O presente trabalho tem como objetivo descrever a reconstrução de grande defeito palpebral e infraorbital em um cão, em um único momento cirúrgico. Utilizando técnicas cirúrgicas combinadas, incluindo retalho modificado com enxerto de cartilagem autóloga (Mustardé Flap). Para o conhecimento dos autores, este é o primeiro relato do uso do Mustardé Flap em cães. Metodologia Um cão, sem raça definida, cinco anos, apresentando alterações da região ocular e facial direita e histórico de cirurgia pregressa. Ao exame físico observou -se região palpebral do olho direito com ausência/cicatricial de margem inferior e superior, ausência de tecido cutâneo na região infraorbitária. Devido à grande falha tecidual incluindo margem palpebral e musculatura orbicular, indicou reconstruir os defeitos da pálpebra inferior e região infraorbitária empregando a técnica de Mustardé, e pálpebra superior com técnica de ressecção em cunha. Reconstrução região inferior: realizou-se incisão musculo-cutânea lateral ao olho direito, estendendo para região temporal até antes da orelha, depois inferiormente a articulação temporomandibular, formando um grande retalho. Um fragmento de tamanho adequado da cartilagem da orelha foi retirado e utilizada para sustentação e fixados entre a conjuntiva residual e o flap cutâneo. Tecidos da periferia do defeito foram cuidadosamente 178 revitalizados e o grande retalho recobriu toda a extensão do defeito sem tensão. A fixação medial foi realizada no periósteo orbital medial, com sutura 3-0 não absorvível. O canto lateral foi suturado (4-0 absorvíveis) ao periósteo para fixação e formação da pálpebra inferior. A união do espaço subcutâneo e intradérmica realizada com fio absorvível(5-0) e sutura cutânea, com fio não absorvível(4-0). Reconstrução região superior: Realizou a ressecção em cunha de espessura total, na região de maior alongamento (euribléfaro). Pela incisão temporal ocorreu a divulsão subcutânea da região frontal e parietal, deslizando frontalmente o tecido cutâneo e aplicadas suturas trans-cutâneas fixadas a musculatura. Aplicação sutura captonada e proteção do flap de terceira pálpebra foram realizadas adicionalmente visando a não retração cicatricial. No pós-operatório o animal foi mantido em ambiente hospitalar. Resultados O estabelecimento de boa altura vertical do retalho foi importante e auxiliou alcançar uma boa posição anatômica do ângulo do canto lateral do olho. O emprego da cartilagem auricular forneceu adequadamente rigidez estrutural, mimetizando uma placa tarsal. Não foram observadas complicações do retalho cutâneo, do enxerto de cartilagem ou de tecidos vizinhos. O resultado estético obtido foi satisfatório e devido à ausência da musculatura orbicular a oclusão palpebral não estava presente. Conclusão Reconstruções palpebrais são procedimentos complexos, devido características peculiares anatômicas e fisiológicas. Um repertorio cirúrgico amplo é exigido para intervenções palpebrais, visando alcançar resultados terapêuticos otimizados. Grande defeito palpebral foi reparado de forma eficiente, empregando uma técnica inédita para espécie. Bibliografia 1Teixeira, V., Ramos, L., Serra, D., Vieira, R., & Figueiredo, A. (2013). Métodos reconstrutivos da pálpebra inferior–Aplicação na prática dermatológica. Rev SPDV, 71(2), 159-69. 2Esson, D. (2001). A modification of the Mustardé technique for the surgical repair of a large feline eyelid coloboma. Veterinary ophthalmology, 4(2), 159-160. 3Lo Torto, F., Losco, L., Bernardini, N., Greco, M., Scuderi, G., & Ribuffo, D. (2017). Surgical treatment with locoregional flaps for the eyelid: a review. BioMed research international, 2017. 4Ibáñez-Flores, N., Bruzual-Lezama, C., Castellar-Cerpa, J. J., & Fernández-Montalvo, L. (2019). Lower eyelid reconstruction with pericranium graft and Mustarde flap. Archivos de la Sociedad Española de Oftalmología.