Elites e Educação. O Liceu de Évora

Abstract

Centrando-se no estudo do ensino secundário, Elites e Educação constitui o terceiro livro da trilogia historiográfica que iniciámos com a publicação de Entre a Escola e a Lavoura. A temática da alfabetização fora, então, o ponto de partida da investigação, seguindo-se-lhe Com Engenho e Arte, estudo focado no ensino técnico. O presente livro, que apresenta uma forte dimensão de educação comparada, com particular ênfase nos países da Europa do Sul, não se furta a contrapor as profundas clivagens existentes nos sistemas de ensino continentais. Assume tais clivagens como matriciais na construção do sistema português e enquadra os casos estudados (ensinos clássico e técnico em Évora) naquela dimensão. Contudo, o fulcro do esforço de investigação é carreado para o estudo do ensino clássico, representado pelo Liceu de Évora, cuja posição cimeira em matéria de oferta formativa é inquestionável. Este instituto permitia aos estudantes, oriundos de todo o Sul, concluírem o ciclo de estudos secundários, quaisquer que fossem as suas opções, curso geral, complementar, ciências ou letras. Este facto garantiu, durante quase um século, um estatuto de exclusividade relativamente aos liceus situados a Sul do rio Tejo e assegurou à cidade de Évora centralidade na função educativa em toda a Região do Alentejo. O retorno dos estudos superiores à cidade, na década de setenta do século XX, retirou ao Liceu o estatuto de primeira instituição de ensino, fenómeno que intensificou com a proliferação das novas escolas secundárias, que propunham idêntica oferta formativa, no quadro da massificação do acesso ao ensino depois de 1974. A compreensão do papel que o ensino clássico desempenhou na cidade ficaria seriamente limitada sem a necessária comparação com o ensino técnico. A instalação de uma unidade representativa deste segmento de ensino na cidade (1914) viria a alterar, por completo, o comportamento da oferta e da procura em Évora. Deste ponto de vista, este livro contraria a ideia propagada por alguma historiografia de que o ensino técnico não contribuiu para a formação de elites. De facto, pensamos ter demonstrado, em primeiro lugar, que a criação de um novo segmento de ensino promoveu as elites políticas que lograram alcançar tal desiderato. Em segundo lugar, o processo de distinção proporcionado pela frequência do ensino clássico intensificou-se com a redução drástica dos alunos recrutados em posições ocupacionais mais baixas, que passaram procurar as fileiras de formação proporcionadas pelo ensino técnico, sobretudo quando a Escola Industrial e Comercial Gabriel Pereira, nos anos de 1920, completou as suas valências (Curso Comercial). A versão académica que está na base deste livro foi apresentada à Universidade de Évora para obtenção do grau de Doutor em História Contemporânea, texto que inclui capítulos e anexos que foram retirados da presente versão. A remissão que fazemos para tabelas e gráficos ao longo do deste livro dirigem o leitor para este documento: Fernando Luís Gameiro, 2014, Elites e Educação. Évora, Universidade de Évora. Dissertação de doutoramento.