Análise ecológica dos equipamentos colectivos para idosos na cidade de Beja: estudo exploratório

Abstract

Introdução - ", ...o nosso destino é o de, um dia, sermos também idosos, e esse dia estará longe de ser belo, se nãoprovidenciamos nesse sentido." (Bize e Vallier). A sociedade ocidental de hoje pauta-se por valores onde o novo, o consumo e o trabalho ditam os cânones do desenvolvimento social. Todo o comportamento humano se racionaliza tendo por função a integração nessa sociedade aquisitiva, meritocrática. Há, no entanto, nesta mesma sociedade, apesar de um desenvolvimento crescente, grupos sociais que cada vez mais permanecem à margem deste .processo sofrendo do fenónemo de exclusão social. Os idosos são um desses grupos. Os idosos na generalidade em número cada vez maior, vêem, se impotentes ara contrariarem esta dinâmica social onde elesjá não têm lugar, uma vez que o seu capital produtivo é já muito reduzido senão nulo. A família enquanto `modelo de organização do homem, também ela, ao longo dos tempos, sofreu transformações diversas. Está, hoje, reduzida à denominada família-nuclear para, desta forma, mais eficazmente responder às solicitações da sociedade. Os idosos já não ocupam, no seio desta, o lugar que no passado foi seu, veêm-se afastados, muitas vezes esquecidos pelos familiares. Com o acelerado dinamismo social, onde se ensaiam transformações constantes e modelos inovadores, o homem inventou espaços próprios para os mais diversos fins. E inventou também espaços só para idosos. Lares para idosos. Nestes, pretendeu criar condições, onde os idosos possam usufruir de cuidados e tratamentos dignos para as últimos anos da sua vida. Mas será realmente assim? Não terá criado um "depósito colectivo" para os já não válidos nesta sociedade? Não serão, estes lugares, um escape da nossa consciência colectiva? Saber como vivem e o que sentem estas pessoas que habitam num lar de idosos, quando paradoxalmente lhe prolongamos a vida e lhe antecipamos a morte social, é o nosso objectivo. Porque assistimos a muitos filhos ou familiares "carregarem " os seus idosos para lares, como se de "coisas" se tratasse, porque assistimos, na nossa sociedade, a uma generalizada desconsideração colectiva dos idosos, levando-os, por vezes, a situações de exclusão, interessa-nos estudar e comprender o fenómeno da velhice.. Assim nada melhor do que analisar uma realidade circunscrita a um contexto específico - Lares para- Idosos.. Trata-se, pensamos,- de um campo fértil onde- abundarão. alguns dos regeitados desta sociedade. Apreender a problemática da velhice, nas ..suas multifacetadas vertentes, compreender o fenómeno da exclusão social, a sua implicação com a velhice, interpretar oseu- significado cultural as suas .articulações causais edescobrir-lhe as razões históricas porque ocorre, é o desafio que se nos coloca. Partimos para esta tarefa preocupados pelas palavras de um idoso... "...um idoso é a mobília .mais antiga que há numa casa, não temlá lugar porque é .velho!"( palavras de um idoso de um dos Lares). Estudar a problemática. dos idosos -pelo prisma de visibilidade .ecológica, se por um lado exige a percepção d.e um todo que extravasa determinado universo rigorosamente delimitado, por outro lado, exige que se atenda a esse mesmo universo como objecto de estudo, evitando assim, conclusões generalizadas ou deduções orfãs de qualquer alicerce de suporte. Daí, que ao delimitarmos o nosso estudo aos utentes dos Lares de Beja, tivéssemos como objectivo principal enraizar o nosso trabalho num concreto visível, podendo, desta forma, fazer asserções legitimas. Contudo, o estudo desenvolvido nunca deixou de merecer uma aprofundada reflexão que em muito extravasou esse mesmo universo, como obviamente se impunha. Atentos a opiniões de especialistas na matéria do género..."...da velhice só pode falar quem saiba alguma coisa dela: e da velhice só pode saber alguma coisa quem nela já se encontra"(Guardinni,1985), pensamos que sendo a velhice um estádio da vida do homem, a qualquer humano será possível aceder ao seu conhecimento, sendo talvez os idosos, os mais conhecedores. Reflectir sobre a problemática da velhice implica uma apropriação do fenómeno e do espaço em que a mesma se desenrola. Nesse sentido, no nosso estudo impõe-se uma breve análise desse mesmo espaço, nas .suas múltiplas vertentes. *Usaremos a forma crítica esempre -que possível comparativa como método de análise dessa mesma realidade. Pensamos que a apreensão dos desenvolvimentos sociais, as relações causais, os suportes teóricos de um agir colectivo .têm significado em contextos específicos e próprios' . A consciência: colectiva comum a determina& conjunto de indivíduos; estrutura o indivíduo. Sem perder de vista o objecto da investigação em curso, pretendemos, agora, discorrer sobre o meio em que esse objecto de estudo se sedimenta, bem como fazer, sempre que possível, uma incursão sob as pessoas idosas e a sua visibilidade sobre o fenómeno. Temos, assim, entre- outras, várias perspectivas para explicar a forma de envelhecer na nossa sociedade. Sem deixar de "coisificar" a velhice, considerámo-la como um facto social a apreender a partir das regras que a sociedade adoptou, sem , no entanto, deixar de atender ao nível individual em que cada actor desenvolve a sua acção social.