O conceito de ambiente e a prática pedagógica no ensino das ciências da natureza: estudo exploratório

Abstract

Introdução - A existência de uma consciência ecológica não é inata. Vai-se adquirindo ao longo dos anos, sempre numa aprendizagem contínua. O papel do conhecimento de conceitos básicos, como o de Ambiente, torna possível a compreensão das dependências e interrelações entre o Homem e o Ambiente. A Educação é um elemento de socialização que integra os jovens, de modo a interactuarem com o Ambiente de uma maneira equilibrada. Daí que, os programas escolares devam ter um papel importante na aquisição, quer da consciência ecológica, quer de conceitos básicos. Mas, além dos programas, é necessário que os professores utilizem práticas pedagógicas adequadas, de forma a que os alunos não sejam espectadores passivos no processo de ensino - aprendizagem. O presente trabalho é um estudo exploratório, que teve como base, uma experiência de prática pedagógica, no ensino das Ciências da Natureza, integrada no Projecto "Ciência - Indivíduo - Sociedade", da responsabilidade da Escola Superior de Educação , da Universidade do Algarve. Escolheu-se o conceito básico de Ambiente, em detrimento de outros, em virtude de se considerar aquele conceito como fundamental, para a consciencialização, do indivíduo, no que respeita às responsabilidades que tem, enquanto elemento pertencente a um ecossistema específico. O trabalho de campo é constituído por três fases de consecução. Numa primeira fase, procedeu-se à caracterização sócio-cultural das turmas do 5° ano da Escola C+S de Montenegro, em Faro, com a finalidade de se seleccionar a turma mais próxima da turma experiência em estudo; na segunda fase, caracterizaram-se as práticas pedagógicas dos professores envolvidos - o da experiência da prática pedagógica e um outro professor de Ciências da Natureza da turma seleccionada, para controlo. Na terceira e última fase, estudou-se, a evolução efectiva do conceito de Ambiente nos alunos das duas turmas. Nesta última fase utilizou-se a metodologia de inquérito, constituída por texto livre e questionários com questões abertas, visto ser a metodologia que mais se adequava a este tipo de estudo exploratório. O tratamento dos dados obtidos nas diferentes fases de evolução do estudo, foram tratados estatisticamente, tendo-se usado o método de Qui quadrado, para avaliar a significância das respostas, comparando-se em seguida, as duas turmas. Do atrás mencionado, algumas limitações são de referir. Neste tipo de estudo exploratório, o tempo em que decorre a experiência é importante para os resultados a obter. No caso presente, a experiência decorreu entre Fevereiro e Junho de 1993, o que é manifestamente pouco tempo para se inferir, com exactidão, se houve ou não uma verdadeira influência da prática pedagógica na interiorização e percepção do conceito de Ambiente. A acrescentar, deve-se, ainda focar o facto de que a população em estudo é específica de uma experiência isolada numa Escola, numa só turma e numa só disciplina curricular. A pouca informação existente, a dificuldade em obter bibliografia específica, relativa ao tema em estudo, e a sua própria novidade, constituíram alguns dos condicionamentos encontrados. Na pesquisa bibliográfica efectuada, foram referenciados alguns artigos, sobre trabalhos práticos, mas todos eles relacionados com a Educação Ambiental. O tema em estudo, embora seja fundamental, para qualquer tipo de Educação para o Ambiente, não tem os mesmos pressupostos. Por outro lado, o desconhecimento de trabalhos realizados ou a realizar nesta área, noutras escolas do Ensino Básico, noutros projectos, e com outros professores, é fruto da falta de divulgação e comunicação dos estudos em curso na estrutura escolar e docente, e limitaram a perspectiva mais alargada e comparativa que este estudo poderia ter. No desenvolvimento da fundamentação teórica, especificamente no capítulo sobre Ecologia Humana, perspectivou-se a evolução do conceito, o desenvolvimento e a importância da Ecologia Humana, focando os valores, opções e percepções. Foi uma escolha deliberada, em virtude de se considerar que este estudo tem como objecto, de uma forma geral, o factor educativo. A Educação, além da vertente de transmissora de conhecimentos formais, não se desliga da formação para a cidadania. Ao "moldar' e "criar" jovens que se integrem, de forma adaptada, no sistema social onde vivem, a Educação recorre à interiorização de valores, de opções e de percepções. Dito de outra forma, só se educa para a cidadania, inculcando nos jovens valores socialmente aceites, que lhes permitam ter a percepção das questões fundamentais, do seu tempo e lhes facilite as opções mais correctas a tomar, para uma interrelação mais equilibrada entre o Homem e o Ambiente. Das várias perspectivas de análise em Ecologia Humana, optou-se por esta, visto corresponder mais ao que se pretende da Educação como factor de socialização e como área integrada na Ecologia Humana. Este trabalho tem como objectivo, conhecer as possíveis influências de práticas pedagógicas diferenciadas, na disciplina de Ciências da Natureza, do 5° ano de escolaridade, na interiorização pelos alunos do conceito de Ambiente.