Estudo do valor alimentar da tremocilha brava (Lupinus luteus L.), em ovinos, e do seu efeito sobre a composição química do leite e qualidade do queijo de Serpa

Abstract

O objectivo deste trabalho foi averiguar se o sabor amargo e as propriedades anti-microbianas dos alcalóides da tremocilha brava afectavam a ingestão e moção digestiva da dieta, a composição química do leite e a qualidade do queijo de ovelha. Numa P experiência comparou-se um suplemento de tremocilha brava (TB) (1,0% alcalõides) com suplementos constituidos por variedades doces de tremoço (T) e tremoço-de-folhas-estreitas (TFE), e com um suplemento testemunha de bagaço de soja (BS). Esta suplementação foi fornecida aos animais com feno de baixa qualidade e de modo a manter as dietas isoazotadas. Quer a ingestão de MS total (g/KgPV0.75) quer a DNDF e DPB das 4 dietas não diferiram significativamente entre si. A DMO da dieta TB (72,0%), não diferiu significativamente (P>0,05) das apresentadas pelas dietas BS (70,5%) e T (74,2%) mas foi inferior à da dieta TFE (77,5%), a que continha maior proporção de concentrado. Também a DADF da dieta TB (66,4%) não diferiu significativamente das determinadas nas dietas BS (61,0%) e T (69,6%) mas foi inferior à da dieta TFE (74,4%). Tanto os valores do balanço azotado de cada dieta como os coeficientes de digestibilidade dos suplementos não mostraram diferenças significativas. Numa 2ª experiência estudou-se o efeito dos alcalóides da TB sobre a actividade microbiana do líquido ruminai ovino incubado in vitro. Num primeiro conjunto de incubações submeteu-se o líquido ruminal a 6 concentrações crescentes de esparteína (0, 1, 2, 3, 4 e 5 mM). Ao fim de 24h de incubação, os líquidos ruminais sem esparteína produziram significativamente mais gás (603 ml) (P<0,05) do que aqueles em que a concentração do alcalóide foi de 2 mM (578 ml), 3 mM (570 ml), 4 mM (573 ml) e 5 mM (567 ml). Também às 6 e 12 h de incubação se assistiu a um declínio da produção de gás conforme aumentou a concentração de esparteína (P<0,05), que foi no entanto mais nítido às 6 h, com as máximas concentrações a registarem apenas -61% do gás produzido nos fermentadores testemunha (P<0,05). A concentração de N-amoniacal só apresentou valores significativamente diferentes (P4,05) às 12 h da fermentação, com o líquido ruminai sem esparteína a exibir uma concentração de N-amoniacal de 34,2 mg/100m1, inferior ao teor de 37,0 mg/100 ml dos fermentadores com 1 e 3 mM de esparteína e 37,9 e 38,0 mg/100m1 naqueles com 4 e 5 mM. Os valores do pH do líquido ruminai livre de esparteína foram sempre inferiores àqueles registados nas outras concentrações, mas só às 6 e 12 h e para as duas concentrações máximas estas diferenças foram significativas (P<0,05). 0 pH registado nos fermentadores correspondentres às situações extremas (0 e 5 mM) foram, respectivamente, de 6,86 e 7,20 às 6 h e de 6,17 e 6,40 às 12 h. Noutro conjunto de incubações, comparou-se a vitalidade do líquido ruminai quando incubado com tremocilha.brava ou com a mesma quantidade de tremocilha doce Topaz aos níveis de 5,10 e 15 g de MS. Em qualquer das situações não se obtiveram produções de gás significativamente diferentes, à excepção do nível de 5 g às 12 h em que a TB originou mesmo uma maior produção de gás (P<0,05). Ao ,cabo de 12 e 24 h de incubação registaram-se também diferenças sicativas (P<0,05) nos valores do pH, com os fermentadores com TB a apresentarem um pH inferior aos da tremocilha doce. ##### ABSTRACT - The objective of this work was to determine if the bitter taste and the anti-microbial properties of bitter yellow lupin alkaloids affected the intake and digestive utilization of the diet, the chemical composition of milk and the quality of ewe cheese. In a 1st experiment, a bitter yellow lupin supplement (BYL) (1.0 % alkaloids) was compared to supplements constituted by sweet varieties of white lupin (WL), narrow leafed lupin (NLL) and by a control supplement of soybean meal (SBM). This supplementation was given to animals along with poor quality hay in order to mantain the isonitrogen level in the diets. Total dry matter (DM) intake (g/KGLW0,75) as well as NDF and CP digestibilitiesfrom the four diets were not significantly different. The organic matter (OM) digestibility from de BYL diet (72.0%) was not significantly different (P>0.05) from those presented by SBM (70.5%) and WL diets (74,2%), but was lower than that presented by the NLL diet (77.5%). This last diet had the greatest proportion of concentrate. In the same way, ADF digestibility of the BYL diet (66,4%) did not differ significantly from the digestibility of SBM (61.0%) and WL (69.6%) diets, although it was lower than the digestibility of the NLL diet (74.4%). Both the nitrogen balance values from each diet and the digestibility coefficients for supplements showed no significant differences. In a 2nd experiment, the effect of BYL alkaloids on the microbial activity of in vitro incubated sheep rumen fluid was studied. In a first set of incubations, rumenfluid was submitted to 6 increasing sparteine concentrations (0, 1, 2, 3, 4 and 5 mM). After 24h of incubation, sparteine-free rumen fluids produced significantly more gas (603 mi) (P<0.05) than those in wich alkaloid concentration was 2 mM (578 ml), 3 mM (570 ml), 4 mm (573 ml) and 5 mM (567 m1). Between the 6th and 12th hour of incubation, a decrease was observed in the production of gas when the concentration of sparteine increased (P<0.05). However, this decrease was more cleariy seen at 6 hours when maximum concentrations registered only 61% of the gas produced in the control fermentators (P<0.05). The concentration of ammoniated N only presented significantly different values (P<0.05) at 12 hours of fermentation, while the sparteine-free rumen fluid presented an ammoniated N concentration of 34.2 mg/100 ml. This value was lower than the 37.0 mg/100m1 value recorded in fermentators with 1 and 3 mM of sparteine and 37.9 and 38.0 mg/100m1 in those with 4 and 5 mM. The pH values of sparteine free rumen fluid were always lower than those recorded in other concentrations. However, differences were only significant (P<0.05) for the two maximum concentrations at 6 and 12 hours. The pH recorded in extreme situation fermentators (0 and 5 mM) was 6.86 and 7.20 at 6 hours and 6.17 and 6.40 at 12 hours, respectively. The vitality of rumen fluid when incubated with BYL or with the same quantity of Topaz sweet yellow lupin at 5, 10 and 15 g DM will be compared in another group of incubations. The production of gas was not significantly different in any of these cases, except for the 5 g level at 12 hours, in wich BYL led to a greater production of gas (P<0.05). After 12 and 24 hours of incubation, significant differences (P<0.05) were recorded in pH values, while BYL fermentators presented a lower pH than those with sweet lupin. The effect of sheep rumen flora on in vitro BYL alkaloids was studied in a 3rd experiment. Small quantities of lupin (0.5g DM) were incubated in rumen fluid and the concentrations of lupanine, sparteine, gramine and lupanine were measured at the beginning of fermentations and 24 and 48 hours. The concentration of lupinine, the predominant alkaloid, did not show any significant change (P>0.05), presenting 65.5 pg/ml at 0 hours and 67.3 pg/ml at 48 hours. The concentrations of the other alkaloids changed significantly during fermentation.