Cocepções do aprender em estudantes de diferentes graus de ensino. Do final da escolaridade obrigatória ao ensino superior: uma perspectiva fenomenológica

Abstract

Esta investigação baseia-se nos paradigmas dos estudos empíricos realizados numa perspectiva fenomenográfica, sendo seu objectivo a descrição das concepções dos estudantes sobre o fenómeno aprendizagem nas seguintes dimensões: concepção geral da aprendizagem, suas funções, conteúdos, temporalidade, processos, condições necessárias à sua ocorrência e aspectos dificultadores. Os dados foram obtidos através de entrevistas semi-directivas, tendo sido utilizados procedimentos qualitativos e quantitativos na sua análise e tratamento. A amostra é constituída por 48 estudantes, diferenciados em função do ano de escolaridade: 9° ano, 12° ano e 4° ano de cursos de licenciatura em ensino. Os principais resultados reportam-se, por um lado, ao mapeamento das diversas concepções dos estudantes relativamente a cada uma das dimensões do fenómeno aprendizagem assim como ao conhecimento da estrutura dessas mesmas dimensões, e, por outro, às semelhanças e diferenças entre as concepções nos diversos anos de escolaridade. Em cada dimensão encontrámos sempre concepções directamente decorrentes do tópico do aprender em causa (aspecto "o que é") e concepções relativas a outros aspectos da aprendizagem. A sua análise permite-nos concluir que a estrutura global do fenómeno "aprender" se reporta essencialmente a cinco aspectos interligados: "o que é", "como ocorre", "conteúdos", "função" e "valor". Somente nas dimensões "Como se aprende" e "O que torna difícil aprender" se encontram ausentes associações estatisticamente significativas entre as concepções expressas e os anos de escolaridade. Em todas as outras dimensões foram encontradas semelhanças e diferenças entre as concepções expressas e o ano de escolaridade. A análise das duas dimensões "O que é aprender" e "Para que serve aprender" permite-nos concluir que as concepções relativas ao que é a aprendizagem se encontram intimamente associadas às funções que lhe são atribuídas. Em três dimensões (i.e., "O que é aprender"; "Para que serve" e "O que se aprende") verificam-se indícios de um movimento evolutivo que parte de concepções instrumentais, ou seja, ligadas à aquisição e aplicação (mais referidas no 9° ano) para concepções transformativas da aprendizagem, i.e., enquanto procura de significado e transformação pessoal (mais referidas no 12° e 4° anos). Na dimensão "Quando se aprende" verificamos também que com o aumento da escolaridade existe uma tendência para o incremento da concepção de que se aprende ao longo de todo o ciclo de vida humano e de factores que influenciam a aprendizagem No que concerne às dimensão "Como se aprende" e "O que é preciso para aprender" salientam-se as semelhanças das concepções entre os três anos de escolaridade. Também relativamente ao "Que torna difícil aprender" se destacam sobretudo semelhanças conceptuais dos estudantes dos três anos de escolaridade em análise, os quais percepcionam maioritariamente o que dificulta a aprendizagem em relação a três pólos: um constituído pelo sujeito que aprende; outro contextua) e um terceiro relativo ao sistema de ensino e, sobretudo, à acção concreta do professor. A análise conjunta unta dos dados permite-nos ainda concluir que estes estudantes percepcionam a aprendizagem no contexto geral e alargado da sua vida no mundo. iii /Abstract - The present study is based on the paradigms of empirical studies based on phenomenographic perspective. Our aim is to describe students' views about the learning phenomenon in the following dimensions: general conception of learning, its functions, contents, temporality, processes, needs and difficulties. This research employed a phenomenographic methodology that involved semistructured interviews which were analysed by means of qualitative and quantitative procedures. The total sample consisted of 48 students: 16 of the ninth grade, 16 of the twelfth grade and 16 of the fourth university year of an educational course. The main results are referred, on the one hand, to the mapping of the students conceptions both in what concerns each of the dimensions of learning and to the structure of those dimensions themselfes and, on the other hand to the identification of similarities and differences between their conceptions in what concerns different degrees of learning. In each dimension we found always conceptions directly derived from the learning topic in question ("what is" aspect) and conceptions related to other learning aspects. This analyse seems to allow us the conclusion that the global structure of the learning phenomenon is essentially reported to five interconnected aspects: what is it?, how does is occur?, how about contents, functions and values. Only the dimension "How do people learn" and " What makes learning difficult" didn't show statistically significative associations between the expressed conceptions and the school level. In all other dimensions we found similarities and differences between the expressed conceptions and the school level. The analyses of the dimensions "What is learning" and "What learning is for" seems to point out that learning conceptions are associated to their functions. In three dimensions (i.e., "What is learning"; "What is learning function" and "What is learned") we found signals of an evolutive movement from instrumental conceptions, that is, connected to acquisition and application (reported specially in the ninth grade) towards learning transformative conceptions that is to say, search for meaning and self transformation (mainly referred both by secondary students -12th grade- and college students). In the dimension "When does learning occur" we also verified that educational progress tends to produce a progressive tendency to improve the conception that learning occurs along live span and the factors that affect learning. In what concerns the dimensions "How do we learn" and " What is necessary for learning',' we can stress the conceptual similarities in the three referred school levels. In what concerns the dimension "What makes learning difficult" we'd like to stress the conceptual similarities in the three school levels students analysed. They have a clear perception about what makes learning difficult and point out three factors: one concerning the learner himself; another, which is contextual) and a third one that points to educational system, mainly referred to teacher's praxis. The global data analysis seems to allow us the conclusion that the sample students have a learning perception in the general context of their life.