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http://hdl.handle.net/10174/11204
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Title: | Historiografia linguística do séculoXVII: as unidades de relação na produção gramatical portuguesa |
Authors: | Fonseca, Maria do Céu Brás da |
Advisors: | Barbosa, Jorge Morais |
Keywords: | Historiografia linguística no século xvii Historiografia linguística seiscentista Apologias da língua portuguesa Lexicografia do português |
Issue Date: | 2000 |
Publisher: | Universidade de Évora |
Abstract: | "Sem resumo feito pelo autor": Sabe-se que a demarcação de limites temporais em investigações na área das ciências humanas é sempre de carácter arbitrário e artificial, mais ainda, de valor tão somente didáctico quando não sincronizada com divisões periodológicas estabelecidas, no caso, o termo ad quem do período da história da língua designado por português clássico em várias propostas de periodização. Em face destas, o jeito de acidentalização que leva neste trabalho a escolha da sincronia de Seiscentos só o concurso de factores de ordem externa poderá mitigar, factores que concorrem na avaliação de que "In most of the recently published full-scale works on the history of linguistics (...), the seventeenth century is not treated as fully as one would wish in view of the many important philosophical and linguistic contributions stemming from this century" (Sebeok, 1975: 277). Deste mal não enfermam as histórias da literatura, propulsoras de estudos mais alargados. Além de códigos literários e uma teoria poética e retórica já bem caracterizados, conhece-se, se não a larga faixa dos chamados poetae minores, o painel de conjunto do escol que, sobre ser pórtico das histórias da literatura, teve a fortuna de um ‘esboço biográfico', como D. Francisco Manuel de Melo, ou de estudos estilísticos, teórico-literários e edições críticas parciais, já isentos das apologias e diatribes de outros tempos, como Francisco Rodrigues Lobo, António da Fonseca Soares, Manuel Bernardes, António Vieira, para só citar alguns de entre os maiores. Deficiências que ainda persistem ao nível dos corpora textuais, num futuro próximo, graças à fiabilidade filológica dos trabalhos em curso na Universidade de Coimbra (cf. Verdelho, E., 1997: 335-336), não serão mais argumento que obste aos estudos da língua portuguesa de Seiscentos. Neste campo, já muitos alicerces foram construídos (cf. Marquilhas, 1996; Maria Filomena Gonçalves, dissertação de doutoramento), desde que Ivo Castro afirmou que "tem de se resignar a fazer de cabouqueiro" quem quiser estudar o português clássico (1996: II, 136). Do ponto de vista da descrição sintáctica, o caboucar nos materiais textuais de Seiscentos obriga a que, uma vez debuxadas as linhas gerais do quadro sincrónico, se aquilate se esse fundo corresponde à arquitectura geral da língua plasmada nos autores acima referidos, ou se há dissonâncias relativamente à construção teórica. Dir-se-á que, no domínio da língua literária, certa forma de transigência é inevitável, sobretudo se se considerar a sintaxe como o uso reflectido de mecanismos gramaticais em nível elevado do seu conhecimento, na fronteira da estilística. Mas a bem conhecida forma translata de
poetar e pregar do conceptismo, as frases "em que a própria sintaxe se vê
alterada" (Pontes, 1953: 425), as construções `já não rigorosamente
gramaticais' (Id., ib.: 427), finalmente os pertos, agoras, guandos que
Raymond Cantel atestou em sermões de António Vieira (cf. 1959: 74 e ss.),
deixam adivinhar terreno onde os caboucos são penosos de abrir.
Talvez por isso o trabalho que ora se apresenta não tenha aí chegado;
do afã de escrutinar os juízos metalinguísticos da época sobre a sintaxe
das unidades de relação que se tencionava estudar em corpus textual de D.
Francisco Manuel de Melo, resultou inquirição demasiado demorada para se
prosseguir nessa direcção. Ficou-se pelos instrumentos de codificação,
gramáticas e dicionários, os dois manuais que servem de base à
escolarização de uma língua, e apologias linguísticas, por toda a
Europa bandeira dos vernáculos, mas lídima expressão do Seiscentismo
português em virtude do fenómeno do bilinguismo, fontes, todas estas, à
margem as já estudadas ortografias, que não defraudam o entusiasmo
gramatical prometido pela centúria de Quinhentos. É que a historiografia
linguística do nosso século XVII não é apenas a dos dicionários bilingues
de português/latim e das gramáticas também elas bilingues de
português/latim, se não na forma (a metalingua explicativa), nos conteúdos;
a seu lado, o confronto interlinguístico da expansão começa a produzir
resultados editoriais por volta dos anos de 1595 (com uma gramática, a de
Anchieta, e um dicionário, o trilingue latino lvsitanicvm, ac iaponicvm),
e a partir daí o fluxo das publicações que puseram em contacto as línguas
eruditas e europeias com idiomas exóticos, alastrou-se do Oriente para
o Ocidente, conforme pôde e soube cada um dos protagonistas da acção
missionária. Fazer jus a estes textos gramaticais, cujo conhecimento
pontual se encontra desfasado relativamente ao quadro da `gramaticografia
e lexicografia latino-portuguesas' das épocas medieval e renascentista
(Verdelho, T., 1995), e deles oferecer um panorama símil deste,
condicionaram a estrutura algo rebarbativa do trabalho que se apresenta:
separou-se a lexicografia ("Primeira parte") da gramaticografia
("Segunda parte"); em cada uma destas vertentes da historiografia
linguística, a metodologia adoptada foi a de abordar sucessivamente os
textos sobre o vernáculo, os de línguas orientais e os de idiomas
ameríndios, evitando-se, porém, leituras estritamente imanentes que
sacrificam a dinâmica dos enxertos de tradição e inovação gramaticais; e
na "Segunda parte", o exame da produção gramatical incidiu sobre a forma
como Amaro de Roboredo, João Rodrigues, Tomás Estevão, Luís Figueira, Luís
Vincêncio Mamiani e outros trataram um dos problemas fundamentais da
adaptação da
gramática latina às línguas vulgares, que é a transição de um sistema de declinação casual (pospositivo) para um sistema preposicional, tendo-se com isso em vista o estudo teórico das unidades de relação. Deixou-se este estudo para remate do trabalho (Capítulo VI), de molde a favorecê-lo por ser ter beneficiado com o acúmulo de informações que cada época sintetiza de criação e tradição, donde os gregos apareçam nos latinos, uns e outros na Idade Média e no Renascimento, e todos nos gramáticos do século XVII. Condensando este lastro tradicional, equacionado de acordo com as aportações linguísticas do funcionalismo de André Martinet, o capítulo da "Gramática teórica" (Capítulo VI) sobre o estudo das preposições, conjunções subordinativas e outras unidades de relação, não chega, porém, a capitalizar os esforços dos gramáticos da nossa história, nem a tirar todo o partido dos princípios sintácticos da teoria de André Martinet, que a complacência intelectual tende a esbater na sombra de outras correntes funcionalistas emergentes da Escola da Praga. Timbrar em dar-lhes, a uns e a outros, o relevo devido só a prazo relativamente mais largo poderia surtir.
Gratiarum actio. “Venerar os grandes sujeitos assi como é dívida é religião", escreveu D. Francisco Manuel de Melo de um seu mestre, Pe. Baltasar Teles. A verdade é a mesma para quem tem sido o meu mestre desde que entrei na Universidade de Évora. O agradecimento que lhe deixo é por imperativo de consciência, mais do que em cumprimento do dever. À Cláudia, Filomena, Sr.a D.a Teresa e a todos os que ficam sem menção, o meu reconhecimento. |
URI: | http://hdl.handle.net/10174/11204 |
Type: | doctoralThesis |
Appears in Collections: | BIB - Formação Avançada - Teses de Doutoramento
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