Desenvolvimento e adaptação académica em estudantes universitários dos "PALOP"

Abstract

Neste estudo, em primeiro lugar, procura-se, através da investigação bibliográfica encontrar e analisar algumas teorias relacionadas com a integração e o desenvolvimento do estudante do ensino superior. Pretende-se, em segundo lugar, evidenciar as áreas de adaptação ao Ensino Superior que se apresentam mais problemáticas para o estudante dos PALOP no Ensino Superior Português, assim como compreender melhor o modo de funcionamento cognitivo do estudante pertencente a este grupo. Para a realização do estudo empírico recorreu-se a dois questionários: o Inventário de Desenvolvimento Cognitivo de Parker (IDCP) e o Questionário de Vivências Académicas (QVA); ambos os instrumentos se encontram estudados e validados junto dos universitários portugueses. O IDCP é um instrumento de avaliação da evolução do pensamento dos estudantes que frequentam o Ensino Superior. Neste instrumento o desenvolvimento cognitivo dos jovens aparece agrupado em três grandes níveis (dualismo, relativismo e compromisso no relativismo). O nível de pensamento dualista revela uma forma de compreender o mundo de modo dicotómico. No nível seguinte, o sujeito é capaz de reconhecer que o conhecimento é relativo e, no último nível, o estudante compreende que existe um carácter pluralista no mundo e age por comprometimento para estabelecer a sua identidade pessoal. É suposto que os estudantes com maiores níveis de desenvolvimento cognitivo apresentem maiores pontuações nas subescalas de relativismo e compromisso no relativismo. Quanto ao QVA, um instrumento construído de raiz para a população universitária portuguesa, tem como objectivo despistar áreas problemáticas de adaptação e aproveitamento dos estudantes na entrada para o Ensino Superior. É constituído por 17 subescalas. Após alguns pequenos estudos de apreciação dos dois instrumentos procedeu-se a sua aplicação definitiva a uma amostra de 204 estudantes dos PALOP, de cinco universidades (Coimbra, Évora, Lisboa, Minho e Porto). Para o efeito recorreu-se a diferentes momentos e contextos das suas actividades académicas. Foi feito um contrato prévio com estudantes conhecedores do meio e dos colegas por forma a organizar a aplicação colegas organizara dos questionários. Utilizou-se uma metodologia de análise estatística descritiva e inferencial. Neste último caso, procedeu-se a uma análise conjunta dos resultados nos dois instrumentos, permitindo uma análise da relação entre os dois instrumentos e outras variáveis relevantes, já mais directamente associadas com características de origem e de enquadramento dos estudantes observados. Tomando os resultados das vivências de acordo com a universidade frequentada e sempre colocando as reservas inerentes ao tamanho e representatividade da amostra, algumas diferenças com significado estatístico foram encontradas nos níveis de adaptação dos estudantes segundo a universidade que frequentam. A variável "curso frequentado", de acordo com os resultados, não parece ser factor determinante ou de diferenciação do tipo de vivências associadas à adaptação académica dos estudantes observados. Relativamente ao desenvolvimento cognitivo os resultados não apontam para a existência de diferenças significativas. Finalmente, centrando-nos na adaptação à instituição de Ensino Superior e na adaptação ao curso que frequentam, através de uma análise de regressão, observamos que 70% da variância dos resultados na adaptação ao curso se explicam pela confluência das seguintes variáveis: autonomia; desenvolvimento de carreira; bases de conhecimento; bem-estar físico(subescalas do QVA) e carreira relativismo (subescala do IDCP). Relativamente à adaptação à instituição, 41% da sua variância é explicada pelas subescalas relacionamento com os colegas; adaptação ao curso; bem estar físico e relacionamento com a família. Numa lógica de intervenção para apoio aos processos de integração e realização académica destes estudantes, fará sentido uma maior atenção a estas variáveis que emergem como mais decisivas na sua adaptação académica. / Abstract - This study involved initially bibliographical research to search for and examine theories related to the integration and development of higher education students. The aims of the study were to discover the areas of adaptation to higher education which are most problematical for students from Portuguese-speaking countries attending universities in Portugal and to gain a better understanding of the way in which students from these countries function cognitively. Two questionnaires were used for empirical study purposes: the Parker Cognitive Development Inventory (PCDI) and the Academic Experiences Questionnaire (AEQ), which are recognised and used by Portuguese universities. THE PCDI is used for evaluating higher education students' thought processes. The cognitive development of young students is grouped in three main levels (dualism, relativism and commitment to relativism). The dualist level of thought reveals a dichotomous mode of understanding the world. At the relativist level, the subject is capable of recognising that knowledge is relative. At the third level, the student understands that the world is pluralist in nature, and through his or her actions forges a commitment to create his or her personal identity. Students with higher levels of cognitive development are expected to obtain higher scores in the sub-scales of relativism and commitment to relativism. Meanwhile, the AEQ has been specially developed to identify problem areas as regards adaptation and progress made by Portuguese university students embarking on higher education, who are grouped into 17 sub-scales. Following several short tests on these two tools, they were used on a sample group of 204 students from Portuguese-speaking countries attending five Portuguese universities: the Universities of Coimbra, Évora, Lisbon, Minho and Porto, with a range of points in time and contexts being selected as regards to students' progress on university courses. First, a contact was drawn up with students familiar with the university environment and the subjects' fellow-students, the students familiar with the university environment helped in the filling in of questionnaires under my supervision. The data was then analysed using descriptive and inferential statistics. A joint inferential statistical analysis was carried out with regard to the relationship between the results of the two surveys and other relevant variables which were closely associated with features of the background of the students who took part in the study. Although there, must always be reservations with regard to the size and representative nature of the sample, the results of experiences according to the university attended showed some statistically significant differences to exist as regards to the levels of adaptation of the students. Meanwhile, the `course attended' variable does not seem to be a determining factor or one which differentiates the type of experiences associated with the academic adaptation of these students. Neither do the results point to the existence of significant differences with regard to cognitive development. Finally, as for to adaptation to the university and the course followed, regression analysis showed that 70% of the variance of the results with regard to the latter was explained by the confluence of the following variables: autonomy; tarear development; bases of knowledge; physical well-being; and adaptation to the university. 41 % of the variance of the results with regard to adaptation to in university is explained by the following sub-scales: relationship with fellow-students; relationship with the student's family; adaptation to major of study, physical well-being. As far as measures for intervention to promote these students' integration and their academic success are concerned, greater attention should be given to these variables, especially to the students who come from abroad, namely from Portuguesa speaking countries in Africa, as they emerge as the most decisive in the process of students' adaptation to the academic world.