Please use this identifier to cite or link to this item: http://hdl.handle.net/10174/11037

Title: Variação de Diversidade Ecológica numa Paisagem Rural em Transformação (O caso do Vale da Ribeira de Seda-raia)
Authors: Carvalho, Maria Adalgisa Alves Palmeiro Cruz de
Advisors: Novo, Francisco García
Keywords: Ordenamento da paisagem
Diversidade ecológica
Agro-ecossistemas
Paisagem rural
Variações de diversidade
Diversidade da paisagem
Issue Date: 1994
Publisher: Universidade de Évora
Abstract: "Sem resumo feito pelo autor"; - Em 1956 Caldeira Cabral definiu a Arquitectura Paisagista como uma arte que "procura realizar, em cada momento, com a maior perfeição, a paisagem humanizada" (Caldeira Cabral,1957,p.59). Nesta definição o autor salienta que o objecto de estudo e aplicação desta arte recai fundamentalmente sobre a paisagem humanizada, aquela que ao longo das gerações o homem foi progressivamente modelando para satisfação das suas necessidades básicas, portanto de ordem material, mas na qual deverão também ser incluídos princípios de "ordem, beleza e equilíbrio". Só em paisagens concebidas desta forma o homem poderá viver em plenitude, pela satisfação das suas necessidades materiais e também espirituais. O mesmo autor lembra ainda que, embora sejam muitas as actividades que contribuem para a formação da paisagem humanizada nos seus aspectos utilitários e exclusivamente materiais, como por exemplo a Agricultura, a Silvicultura, a Pecuária e a Construção Civil, só a Arquitectura, e no caso que particularmente nos diz respeito, a Arquitectura Paisagista, têm como objectivo fundamental "realizar não só a utilidade, mas também a beleza" (Caldeira Cabral, 1957, p.60). A acção exigida ao Arquitecto Paisagista é pois de carácter global - intervenções de modelação da paisagem que conciliem funções e produtivas com princípios de natureza estética, para obtenção de paisagens em que o Homem satisfaça plenamente todas as suas necessidades e aspirações. Paisagens em que o Homem possa viver em harmonia com as leis da natureza e com os outros homens. Paisagens que sejam o reflexo das experiências passadas, conciliadas e melhoradas com o saber do presente e que constituam um valioso património histórico-cultural, não só para as gerações actuais, mas também para as futuras. O desafio contido no objectivo fundamental da Arquitectura Paisagista conduz inevitavelmente à necessidade duma interpretação da paisagem como um todo, e portanto das suas componentes humanas e biofisicas. Esta tentativa de interpretação holística da complexidade dos fenômenos responsáveis pela dinâmica da paisagem aparece-nos de forma muito sintetizada e concisa no título da obra de Neuray (1982) - "Paisagens - Para quem? Porquê? Como?". González Bernáldez (1981,p.9) decompõe as interrogações que se nos podem levantar ao pretender interpretar uma paisagem numa série de questões que podemos considerar exaustivas sobre o funcionamento de qualquer paisagem. Este autor apresenta um questionário em que são abordados praticamente todos os factores que contribuem para a modelação e evolução de qualquer paisagem, incluindo os biofisicos, ecológicos, histórico-culturais e socio-económicos. A primeira pergunta desse questionário é de carácter geral e de certa forma globalizante - "Porque é que esta paisagem é assim?". Esta é sem dúvida a questão de partida para quem analisa uma paisagem com o objectivo de mais tarde propor para ela alguma forma de intervenção. Para encontrar uma resposta efectiva a essa pergunta há que decompô-la em muitas outras (González Bernáldez, 19 8 l,p. 9): - Quais os factores responsáveis pela sua manutenção? - Que factores são responsáveis pela sua diferenciação em relação às paisagens vizinhas? - Quais os aspectos históricos da sua evolução, quer recentes, quer antigos? - Trata-se de um sistema em equilíbrio ou em mutação? Qual será a sua evolução futura? Que deverá fazer-se para manter o seu estado actual? E para fazê-lo evoluir em direcções consideradas como mais favoráveis? - Como se relacionam as populações vizinhas Que preferências mostram em relação aos diferentes sectores de cada paisagem e em relação às paisagens vizinhas?" É evidente que só uma formação pluridisciplinar poderá responder de forma satisfatória à infinidade de perguntas que cada uma destas questões encerra. Caldeira Cabral. (1957,p.61) dizia, referindo-se às funções do Arquitecto Paisagista - "a nossa missão é por vezes delicada e exige sempre não menos o conhecimento dos homens do que das plantas e do meio físico". Se à partida não parece que se ponham dúvidas quanto à necessidade básica de reconhecimento das componentes biofisicas do meio para o qual se vai elaborar qualquer proposta de intervenção, já quanto aos factores humanos deverá reconhecer-se que nem sempre são devidamente apreciados e ponderados. Mas é para o homem viver com dignidade que se criam novas paisagens. Essas novas paisagens assentam sobre paisagens humanizadas, a maior parte das vezes carregadas de história milenar. Pinou (1981,p.8) refere-se ao processo de formação da paisagem como sendo "uma construção cumulativa" em que um dos factores de riqueza é sua complexidade que "advém não só das diversidades regionais, mas que é também o resultado da sua longa história". Quanto à necessidade indiscutível de incluir na interpretação da paisagem os factores de carácter histórico, Neuray (1982,p.11) questiona a validade dos estudos de paisagem em que a "dimensão histórica é frequentemente negligenciada", argumentando que esta só é compreensível através da interpretação "dos acontecimentos e circunstâncias que a modelaram". É com os homens que vamos trabalhar porque a interpretação da paisagem com carácter global exige complementaridade de experiências e conhecimentos. São os homens que vão implementar as nossas propostas, pelo que as condicionantes económicas e socio-culturais locais são também factores de peso a considerar. Se este universo humano é bastante restrito quando se trata de propostas para um jardim particular, ele vai-se no entanto alargando progressivamente quando a intervenção passa a fazer-se à escala do espaço público urbano, do ordenamento da paisagem e do território. Dauvergne (1981,p.27), referindo-se ao carácter global da paisagem considera-a "um todo percebido e vivido como tal". Por um lado, há que reconhecer que a necessidade da interpretação deverá ir muito além da percepção sensorial dos elementos que a integram, que sendo suficiente para uma análise visual, se revela no entanto muito incompleta como base de propostas de intervenção na paisagem que se destinem a valorizá-la como um todo interligado e interactuante - percebido. Por outro lado, não deverá ignorar-se o papel preponderante do Homem, mas também dos outros seres vivos, em toda a formação e evolução da paisagem - vivido. Mais à frente o referido autor considera mesmo que a concepção e integração de "coisas belas" na paisagem não passa de "simples equipamento". De facto pensamos que o sucesso das intervenções na paisagem exige muito mais do que a simples integração de elementos de embelezamento, ou até mesmo de concepções que se orientem exclusivamente por princípios de natureza estética. Como salienta Neuray (1982,p.11) "o estudo da paisagem deve necessariamente ultrapassar a fase de contemplação para se alargar à compreensão daquilo que se vê". E porque a paisagem não resulta da intervenção directa de um artista que projecta a sua obra de arte, como no caso de um parque ou jardim, mas antes é o "resultado de múltiplas decisões económicas, políticas e administrativas" (Neuray,1982,pp.11-12) que actuam sobre um território com a suas condicionantes biofísicas e socio-culturais, há que conceber intervenções que ponderem convenientemente as questões de natureza estética, sem descorar os aspectos funcionais, pois esta obra de arte é para ser vivida e não apenas contemplada. Há pois que pensar nos aspectos funcionais em termos de dinâmica global da paisagem, onde o homem é de há muito o principal agente de transformação, o principal beneficiário das suas acções positivas, mas nem sempre é o mais directa e negativamente afectado, pelo menos a curto prazo, pelas intervenções degradantes do meio por ele próprio desencadeadas. As intervenções que se manifestam de forma negativa sobre a paisagem resultam fundamentalmente do deficiente conhecimento da sua dinâmica da paisagem, ou mesmo quando este existe, a ponderação do peso dos vários factores intervenientes não é a mais adequada. Em geral pode dizer-se que tem sido atribuído maior ênfase aos aspectos puramente económicos, com a agravante de, entre estes, serem os da política económica a curto prazo os que mais imperam, ou que pelo menos têm vindo a imperar na maior parte dos casos. A manipulação do Espaço Rural tem vindo a ser cada vez mais planeada a partir de centros de decisão distantes, muitas vezes de além fronteiras, alheios às condicionantes biofisicas, e aos interesses e à cultura das populações locais, desfasados da especificidade das escalas regionais. Estas orientações têm levado à descaracterização das paisagens rurais, pela perda de valores ecológicos e histórico-culturais e à delapidação dos seus recursos, e consequentemente das suas potencialidades produtivas, muitas das vezes com carácter irreversível. Para obstar à continuação da perda irreparável de recursos têm surgido nestas últimas décadas novas orientações para as "estratégias" de desenvolvimento que procuram fazer integrar os conceitos ecológicos e económicos com vista à manutenção dos recursos vivos e ao desenvolvimento económico, através duma política de chamado Desenvolvimento Sustentável. A Estratégia Mundial da Conservação (IUCN,1980,p.BT-1) considera como bases essenciais para a manutenção dos recursos vivos as seguintes actuações: "- manter os processos ecológicos essenciais e os sistemas que sustentam a vida (tais como a regeneração e a protecção do solo, a reciclagem das substâncias nutritivas e a capacidade auto-depuradora das águas) de que dependem a sobrevivência humana e o desenvolvimento; - preservara diversidade genética, de que depende o funcionamento de muitos dos processos e dos sistemas básicos para a vida acima indicada, os programas de melhoramento necessários para a protecção e desenvolvimento das plantas cultivadas, dos animais domésticos e dos micro-organismos, bem como grande parte do avanço científico médico, da inovação técnica e a segurança das muitas indústrias que usam os recursos vivos; - assegurar de forma perene a utilização das espécies e dos ecossistemas (nomeadamente da fauna piscícola e de outra vida animal, das florestas e das pastagens) que sustentam milhões de comunidades rurais e industriais."
URI: http://hdl.handle.net/10174/11037
Type: doctoralThesis
Appears in Collections:BIB - Formação Avançada - Teses de Doutoramento

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