O Contributo das Instituições de Ensino Superior para a ‘construção’ das cidades médias: o caso da Universidade de Évora

Abstract

Em Portugal a expansão do sistema de ensino superior, que se verificou a partir do final dos anos 70 do século passado, fez com que as cidades de média dimensão passassem a albergar instituições de ensino superior (IES) de natureza quer pública quer privada, universitária ou politécnica. Esta alteração nas características do sistema de ensino superior permitiu que, desde então, um muito maior número de jovens pudessem passar a ter acesso a educação superior, ou seja, o sistema de ensino superior em Portugal massificou-se, no dizer de uns, ou democratizou-se, segundo outros. Independentemente da qualificação associada a esta opção, o certo é que as IES localizadas nas cidades de média dimensão alteraram de forma significativa os modos de vida destas urbes. Os efeitos registados são de natureza diversa: desde os mais imediatos, de tipo económico-financeiro, decorrentes sobretudo de alterações nas características da procura existente, até aos mais estruturais, ou chamados efeitos ‘do lado da oferta’, aqueles que alteram significativamente as características das localidades e a estrutura e características dos recursos aí existentes. Com o presente texto é nosso objetivo para além de identificar os diversos efeitos que as IES produzem nas cidades de média dimensão, iremos também analisar as cidades com Universidades em Portugal, nomeadamente refletindo sobre o caso particular da presença da Universidade na cidade de Évora e na forma como ambas têm vindo a evoluir. Évora é uma cidade que pela sua configuração física e demográfica, pela posição intermédia que ocupa na hierarquia urbana mas também pelas redes/interações que se produzem ao nível das vivências dos seus habitantes e das sociabilidades que desenvolvem, a presença da população universitária assume particular importância na diversidade de impactos que produz na cidade. A cidade de Évora localiza-se na NUTS II Alentejo, região que apresenta problemas de desenvolvimento. Face à envolvente territorial onde se situa, Évora sempre se tem afirmado como urbe com destacada notoriedade. É de relevar, por exemplo, o seu prestígio no século XVI ao ser elevada a metrópole eclesiástica, período que correspondeu à construção do Colégio do Espírito Santo, confiado à Companhia de Jesus e obtendo o estatuto de Universidade por bula papal em 1559. A função universitária da cidade foi interrompida em meados do século XVIII, decorrente da conjuntura política e cultural e só foi retomada na década de 60 do século passado com o Instituto Superior Económico e Social de Évora (ISEES). O estatuto privado do ensino superior em Évora foi desativado e em 1973 passou a funcionar o Instituto Universitário de Évora que, volvidos seis anos, deu origem à atual Universidade de Évora. Nos anos 80 a cidade de Évora foi reconhecida pela UNESCO como Património da Humanidade (1986); paulatinamente, a Universidade de Évora ocupava espaço na cidade e acolhia um número crescente de jovens para iniciarem a sua formação académica. A evolução da cidade está inequivocamente associada à função universitária em Évora, ligação que continua a evidenciar um forte vínculo, como se terá oportunidade de demonstrar.