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http://hdl.handle.net/10174/39470
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| Title: | Jovens e educação sexual: contextos, saberes e práticas |
| Authors: | Vieira, Maria Manuel Vilar, Duarte Cunha, Vanessa Ferreira, Tatiana Pelixo, Paulo Pinto, Paula Sampaio, Ana Pereira, Dulce Gamito |
| Editors: | Vieira, Maria Manuela Vilar, Duarte Cunha, Vanessa Ferreira, Tatiana Pelixo, Paulo Pinto, Paula Sampaio, Ana Pereira, Dulce Gamito |
| Keywords: | Jovens Educação sexual Escola Família Sexualidade |
| Issue Date: | Dec-2024 |
| Publisher: | Imprensa de Ciências Sociais |
| Citation: | Vieira, M. M., Vilar, D., Cunha, V., et al. (2024). Jovens e educação sexual: contextos, saberes e práticas (Col. Observatório). Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais. ISBN: 9789726717973 |
| Abstract: | A opinião pública nacional confronta-se periodicamente com
notícias sobre relacionamentos sociais veiculadas pelos media que
geram alarme social: episódios de violência conjugal ou no namoro,
relatos de homofobia, acusações de assédio sexual ou mesmo de estupro,
ocorrência de casos de gravidez precoce, preocupação com doenças
sexualmente transmissíveis. Na verdade, tal imagem é tão-só o
espelho do que a abordagem mediática permite captar da realidade.
Ora, sabe-se que o debate público suscitado pelos media enforma
de efeitos de potenciação conhecidos: decorre ao sabor arbitrário da
agenda setting e incide primordialmente sobre casos individuais e perceções
subjetivas, não raro com cunho alarmista, em detrimento de
abordagens mais amplas, fundamentadas em investigações rigorosas,
sobre os mesmos fenómenos.
O estudo que agora se apresenta pretende oferecer um outro olhar
sobre afetos, relações amorosas e sexualidade. Mais especificamente,
debruça-se sobre a educação sexual de jovens, em Portugal, as suas
práticas e sentimentos concernentes às relações amorosas e sexuais,
e as ajudas e os recursos que são mobilizados nesse domínio.
São vários os espaços e múltiplos os atores envolvidos na educação
sexual dos jovens. A família e o grupo de amigos destacam-se nesta
matéria, pela proximidade relacional e afetiva que os une. A democratização
crescente das relações familiares observada na contemporaneidade
e a banalização da abordagem da sexualidade nos media e nas
redes sociais tem favorecido uma maior abertura para o diálogo entre
pais e filhos, no espaço doméstico, o que contempla uma pluralidade
de assuntos outrora considerados tabu. Torna-se quase impossível
excluir, como dantes, estes temas da comunicação entre pais e filhos.
Por sua vez, a escolarização alongada tem permitido criar e consolidar
uma rede de amigos alimentada quotidianamente no espaço físico
da escola ou fora dela, potenciada agora com as novas tecnologias
digitais. A intensidade comunicacional estabelecida acompanha o
processo de crescimento e amadurecimento dos jovens adolescentes,
englobando, inevitavelmente e como sempre aconteceu, as preocupações
amorosas e da intimidade sexual.
Para além destes atores, a escola tem sido também um interveniente
cada vez mais ativo neste tema. Com efeito, a educação sexual escolar
tem vindo a afirmar-se na Europa (Ketting e Ivanova 2018), nomeadamente
por influência de instâncias internacionais preocupadas com
a promoção da saúde (OMS) e a educação das crianças e dos jovens
(UNESCO). Em Portugal, a educação sexual escolar é uma questão
debatida desde os anos 80 do último século (Vilar 2009), quando foi
aprovada a legislação que a institui no sistema educativo. Desde então,
este domínio de educação para a cidadania e para a saúde tem vindo
a instalar-se como área de formação no espaço escolar.
É neste contexto social que surge o presente estudo. Sendo a adolescência
um período vital de exploração e de descoberta sexuais, seria
importante apurar o nível de educação sexual dos jovens portugueses,
as suas fontes de informação e, também, o papel da escola neste
processo. O projeto de investigação que ora se apresenta replica um
estudo realizado em 2008, comparando e atualizando os resultados e as
tendências então apurados. Nessa altura, no âmbito do estudo «A educação
sexual dos jovens portugueses – conhecimentos e fontes», foi lançado
um inquérito por questionário a estudantes do Ensino Secundário
(Vilar, Ferreira e Duarte 2009). Os resultados obtidos evidenciaram que,
embora a maioria dos jovens da amostra (2621) apresentasse um nível
de conhecimentos bastante satisfatório, os temas mais deficitários incidiam
sobre questões práticas referentes aos métodos contracetivos e a
informação sobre as Infeções Sexualmente Transmissíveis (com exceção
da SIDA). Por sua vez, revelava-se diminuto o recurso a profissionais
e a serviços de saúde. Em suma, o estudo sugeria o muito que haveria
ainda a fazer no domínio da educação sexual escolar.
Em 2018, alguns dos membros e das entidades protagonistas do
estudo «A educação sexual dos jovens portugueses – conhecimentos
e fontes» desafiaram um grupo de investigadores1 a desenvolver um
1 As duas instituições pioneiras no primeiro estudo (APF – Associação para o
Planeamento da Família, agora representada por Paulo Pelixo, e o ICS – Instituto de Ciências Sociais, representado por Maria Manuel Vieira, Vanessa Cunha e Tatiana
Ferreira) associaram-se ao CLISSIS – Centro Lusíada de Investigação em Serviço
Social e Intervenção Social, agora coordenado por Duarte Vilar, coautor do primeiro
estudo, para desenvolver este novo projeto.
novo projeto de investigação que respondesse à questão: dez anos
depois, o que mudou? Com efeito, alguns anos após a implementação
efetiva da educação sexual escolar em Portugal, pouco se conhecia
sobre a qualidade dessa formação e o impacto que estaria a ter nos
conhecimentos, atitudes e comportamentos dos jovens. Era também
insuficientemente conhecido o lugar que a família, os professores,
os pares e os profissionais de saúde desempenhavam como fonte de
informação, recurso ou suporte nesta matéria.
Trabalhando com alguma dose de voluntarismo e muita perseverança
para ultrapassar os vários desafios que se colocaram ao processo
de pesquisa – novas regras relativas ao Regulamento Geral de Proteção
de Dados; obstáculos impostos pela tutela de uma das Regiões
Autónomas; dois anos de confinamentos pandémicos intermitentes;
condicionalismos relativos ao calendário escolar –, a equipa de investigação
concluiu finalmente o projeto quatro anos após o seu arranque,
tendo apresentado publicamente os primeiros resultados numa
conferência realizada em abril de 2022. Esta iniciativa foi acompanhada
pela publicação do relatório do estudo, contendo o conjunto
da informação coligida, de forma simples e visualmente atrativa, para
um público alargado (Ferreira et al. 2022).
A obra que agora se apresenta pretende aprofundar alguns dos
temas abordados explorando, de forma mais analítica e substantiva,
os resultados do questionário lançado em 2021 a jovens dos 10.º e
12.º anos de escolas do continente e das Regiões Autónomas.
O primeiro capítulo, da autoria de Tatiana Ferreira, debruça-se
sobre questões ético-metodológicas relativas ao processo de investigação,
assim como apresenta e caracteriza a população inquirida neste
estudo. As questões éticas decorrentes de estudos com populações
tuteladas e envolvendo temáticas sensíveis, como a sexualidade, têm
sido objeto de parca reflexão. Tão importante quanto o desenho e os
procedimentos metodológicos, a dimensão ética assume cada vez mais
preponderância na investigação que envolve seres humanos, pelo que
este capítulo constitui um assinalável contributo para esse debate.
Vanessa Cunha propõe-se refletir, no capítulo que intitulou
«Jovens, agregados domésticos e comunicação sobre sexualidade e
intimidade: mudanças na vida familiar e o lugar do pai na comunicação
», sobre o impacto das mudanças ocorridas nas últimas décadas nas
famílias, em Portugal, ao nível da educação e da comunicação entre
os jovens e os seus pais em temáticas da sexualidade e das relações
amorosas. O lugar dos progenitores nesta matéria e, nomeadamente,
a importância da composição dos agregados domésticos e da corresidência
(ou não) com a mãe e com o pai são, neste capítulo, escalpelizados
com base no tratamento estatístico dos resultados do inquérito.
O capítulo seguinte «Silêncios sociologicamente pertinentes:
jovens adolescentes que não falam com ninguém sobre assuntos relacionados
com sexualidade» aprofunda um subgrupo pouco numérico,
mas não menos interessante, do ponto de vista analítico, constituído
pelos inquiridos que indicam não ter falado com ninguém sobre
temas de sexualidade no último ano. Utilizando uma abordagem
comparativa (jovens que não falaram versus jovens que falaram com
alguém sobre sexualidade), Maria Manuel Vieira pretende identificar
eventuais fatores diferenciadores (características sociodemográficas,
qualidade dos conhecimentos sobre sexualidade, práticas sexuais) que
permitam entender tais silêncios.
Paulo Pelixo, Ana Sampaio e Dulce Pereira propõem-se examinar
um outro subgrupo populacional neste estudo: aqueles/as que
declaram uma orientação não heterossexual. Partindo do pressuposto,
sugerido em alguns estudos, da existência de um défice de informação
e de recursos adequados às necessidades específicas com que as jovens
populações LGBTI se confrontariam no âmbito da educação sexual
escolar, o capítulo 4 vai analisar eventuais diferenças nos conhecimentos
sobre sexualidade dos/as jovens, em função da respetiva
orientação sexual.
No capítulo 5, «Educação sexual como prevenção de riscos?
Conhecimento e práticas sexuais dos jovens adolescentes», Maria
Manuel Vieira debate o tema do risco, nas sociedades contemporâneas,
articulando-o mais especificamente com as práticas juvenis.
Sendo a educação sexual entendida como um contributo fundamental
para prevenir comportamentos de risco, no que respeita às relações
amorosas e à sexualidade, a autora vai indagar se um maior conhecimento
sobre sexualidade se associa a práticas preventivas de risco, por parte dos jovens inquiridos, ou se os comportamentos sexuais dos
jovens se orientam por outro tipo de critérios – que importa conhecer.
Justamente, a escola tem vindo a assumir um certo protagonismo
na educação sexual dos jovens, por força de políticas educativas que
a inscrevem como elemento de uma educação para a cidadania e de
uma educação para a saúde. No capítulo 6, «A educação sexual na
escola vista pelos jovens», Duarte Vilar dedica-se a aprofundar este
tema, começando por identificar diferentes conceções de abordagem
da educação sexual escolar, fazendo depois uma viagem pelas políticas
de educação sexual concebidas nas últimas décadas em Portugal,
terminando, com recurso aos dados do inquérito, com a perceção dos
jovens inquiridos sobre os temas de educação sexual abordados no
3.º ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário.
Paula Pinto explora, no capítulo 7, a questão do «acesso e obstáculos
dos jovens a recursos de saúde sexual e reprodutiva». Depois
de um périplo sobre as diretivas nacionais e internacionais relativas
aos direitos de saúde sexual e reprodutiva, entre as quais se incluem
também apoios e recursos como instituições, projetos e iniciativas
que visam garantir tais direitos, a autora vai apurar em que medida
os jovens inquiridos acedem e usufruem desses apoios e qual(is) o(s)
motivo(s) que os levaram a recorrer aos mesmos.
O livro termina com um capítulo da autoria de Duarte Vilar
que pretende identificar, através de uma comparação exaustiva dos
resultados do estudo de 2008, «A educação sexual dos jovens portugueses
– conhecimentos e fontes», com os do estudo de 2021 em
que se baseia esta obra, os traços de permanência e de mudança
nos conhecimentos, relações amorosas, comportamentos sexuais e
recursos mobilizados pelos jovens neste período de 15 anos pautado
por importantes alterações nas políticas educativas e nas práticas
juvenis. Esse exercício comparativo permite dar destaque a alguns
dos resultados mais relevantes deste estudo, sintetizados nas conclusões
finais.
Resta-nos esperar que esta obra possa contribuir para um melhor
entendimento da realidade complexa de que se reveste a educação
sexual dos jovens e possa, igualmente, lançar algumas pistas para
reflexões e para debates futuros mais fundamentados sobre o tema. |
| URI: | http://hdl.handle.net/10174/39470 |
| ISBN: | 9789726717973 |
| Type: | book |
| Appears in Collections: | CIMA - Publicações - Livros
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