Anarquismo, violência e protesto popular durante a Primeira República em Portugal

Abstract

Partindo do discurso auto-legitimador da institucionalização do Estado corporativo, o autor explora, neste texto, a hipótese que o regime parlamentar e liberal republicano teria sido incapaz de lidar com a "questão social" devido, fundamentalmente, à capacidade de resposta das organizações operárias. Para tal, o autor procede a uma análise temporal mais longa sobre essas preocupações junto da classe política, a partir de marcadores semânticos nas intervenções parlamentares desde a Regeneração. Os resultados mostram uma mudança significativa nos padrões de conflitualidade social desde o século XX e a emergência das greves operárias como foco de preocupação primeira dos parlamentares durante o regime republicano. Porém, o nível de conflitualidade laboral estava já fase de refluxo e tal como a violência aberta, rejeitada como contraproducente e contra-revolucionária pela organização anarco-sindicalista. = Starting from the self-legitimating discourse about the institutionalization of the Corporative State (1933-1974), the author explores the hypothesis of the incapacity of the republican liberal and parliamentary regime to deal with the "social question" due fundamentally to the responsiveness of workers' organizations. To this end, the author proceeds to an extensive time analysis of these concerns among the political class, considering the semantic markers in the parliamentary interventions since the Regeneration era (1852-1889). The results show a qualitative change in the patterns of social conflict since the twentieth century and the emergence of workers' strikes as the primary concern of the parliament representatives during the republican regime (1910-1926). However, this study written in honor of the sociologist and historian João Paulo Freire, have also shown that the level of labor conflict was already in the phase of reflux and the violence as well. Moreover, the violence was rejected as counterproductive and counter-revolutionary by the anarcho-syndicalist organization, the C.G.T..