Abstract: | Constituirá o monte alentejano um elemento que reforça a estrutura da paisagem do Alentejo? Como e porquê se perpetua o monte alentejano no desenho daquela paisagem? Como se explica a sua permanência na paisagem de um Alentejo que (ainda hoje) se esvazia. Esta permanência significa cultura ou inércia? É possível que na sua identidade contenham uma herança do sítio que configura. Questionamo-nos como, quando e porquê surgem estes conjuntos na paisagem e para que época nos remetem. Suscita-nos também a curiosidade de entender porque alguns se transformam em assentos de lavoura. Numa visão transdisciplinar pretendemos entender a herança cultural e espacial que os assentos de lavoura abraçaram e perpetuaram na paisagem. Procurando de que forma é que esta tipologia reflecte as estruturas ideológicas fundiárias e preserva/valoriza o desenho da paisagem. A história económica, social, e cultural marcou decisivamente a paisagem do Alentejo no séc. XIX. Por intermédio de uma transformação agrícola o Alentejo viu a sua memória vinculada à identidade cultural da história do trigo. Acreditamos que aquelas estruturas constituem lugares de memória e cremos também que, e claramente, se assumem como um valor paisagístico, cultural, patrimonial e identitário da Sociedade Agrícola do Alentejo do final do século XIX e decurso do século seguinte. Defendemos que os montes transformados em assentos de lavoura constituíam o coração das herdades do trigo. Para tal, necessitamos estudar de que forma os factores sociais, políticos e económicos determinaram/proporcionaram o surgimento ou a preservação daquelas estruturas num sítio que inicialmente poderia ter sido determinado, somente, por factores bióticos e abióticos. Apela-se às abordagens teóricas e metodológicas ligadas à história económica, à ecologia, à geografia, à arqueologia, à antropologia e às ciências sociais e humanas, um auxílio na criação de pontes e fornecimento de dados que permitam caracterizar e entender/interpretar a história daquela paisagem e atestar a necessidade que defendemos de compreender o porquê e o como é que aquelas estruturas vieram reforçar e reconhecer no desenho da paisagem o valor do sítio, daquele sítio, perante uma nova realidade histórico-cultural. E, apesar de nos debruçarmos e construirmos a nossa dissertação a partir da paisagem transformada pelas alterações políticas, sociais e económicas que ocorrem quando a aristocracia endinheirada se fixa no Alentejo, não esquecemos que estas estruturas podem reflectir, ou não, formas de povoamento ancestrais e podem até plasmar algumas das antigas estruturas fundiárias do império romano. Na reflexão de todos os saberes recolhidos, e assumindo que a paisagem é flexível, que é reflexo da sociedade e que mutável no tempo, queremos entender de que forma as sucessivas transformações podem ser comprometedoras para a identidade do espaço rural e como é que essas mudanças de usos que se vão impondo à paisagem fundamentam a transformação do monte em assento de lavoura. Gostaríamos ainda de entender de que forma estes agrossistemas são determinantes, ou não, do desenho e da estrutura cultural da paisagem. E se carregam toda uma bagagem histórica formada ao longo do séc. XIX. Na verdade, e muito curiosamente, apercebemo-nos de que a imagem do Celeiro de Portugal, mesmo que extinta na paisagem, é a imagem que ainda hoje permanece nítida na memória colectiva e é fomentada pelo turismo (o grande gestor das ilusões com as paisagens de ontem no ....hoje);
ABSTRACT:
Does the "monte Alentejano" constitute an element that reinforces the structure of Alentejo landscape? How and why "monte Alentejano" still perpetuates itself in the landscape design? How do we explain its permanence in a current Alentejo landscape which is becoming empty? And does this permanence mean culture or inertia? How, when and why does these sets appear on the landscape? Why does these seats of farming stands out in the landscape? Do they contain an identity, a site heritage that shapes them? How this typology does reflects the ideological land structures and preserves I enhances the landscape design? How and when did they emerge in the landscape and what epoch they reminds us? ln a transdisciplinary vision we aim to understand the cultural and spatial heritage that these seat crops embraced and perpetuated in the landscape. We believe that those structures are places of memory and we also believe that they clearly identify themselves as a cultural, a heritage and identity values of the Alentejo Agriculture Society of the nineteenth century and of the landscape they represent. For that we need to study how the social, political and economic factors provided the emergence or preservation of those structures in a specific place that could initially have been determined just by biotic and abiotic factors. We will also need the ecology, geography, history, archaeology, anthropology and the social sciences and humanities approach for this understanding and for the creation of links and provision of data to characterize and understand the history of that landscape attesting our advocation to understand why and how those structures came to recognize and to strengthen the landscape design and the value of the site, before a new historical and cultural reality. Despite our approach emerge from the landscape transformed by political, social and economic changes that occurred from the beginning of the nineteenth century (when an elite society - the moneyed aristocracy) binds on alentejo, we should not forget that these structures may reflect, or not, ancestors forms of settlement and can mold some of the old structures in the Roman Empire. Reflecting on all the collected bibliography and studied authors, and assuming that the landscape is changeable and flexible, and therefore it is on a permanent movement, we want to understand how the successive transformations can compromise the identity of the rural space and how these changes of uses which were imposed to the landscape support the transformation of the "monte Alentejano" and how these agroecosystems are determinants of the landscape design and its cultural structure. |