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http://hdl.handle.net/10174/11028
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Title: | A Língua do Ver na Espanha dos Áustrias: criação de memória e fixação de ideais |
Authors: | Amado, Maria Tereza |
Keywords: | Historiografia História moderna Bibliotheca-livraria Bibliotheca real |
Issue Date: | 1997 |
Publisher: | Universidade de Évora |
Abstract: | "Sem resumo feito pelo autor"; - Este trabalho, que estuda os primeiros tratados sobre a escrita da história surgidos na Península Ibérica, pretende analisar a história enquanto palavra criadora de sentido, para o Outro, reflectindo portanto sobre o seu valor na representação de sucessos, sublinhando o caracter profundamente simbólico e elaborado desses relatos, originários de uma concepção e de uma matriz retórica, de modo a entender como a história, enquanto estrutura narrativa e saber, vai integrando a análise do real, e como essa nova conceptualização vai re-organizando, ou subordinando, o dizer retórico.
Sendo os tratados em análise textos que ensinam a escrever histórias, eles reflectem explicitamente sobre os aspectos de âmbito historiográfico, sintetizando o termo Res a conceptualização que cada autor apresenta. Usa-se Res, no sentido de Arte, regras e conhecimento de coisa, exprimindo o próprio conceito a ambiguidade essencial ao conhecimento histórico. No entanto, tratando-se de um dizer HISTÓRIA do início da modernidade e da génese de um saber, os tratados pretendem, sobretudo, ensinar a dissimular o efeito representativo da sua leitura, identificando-se as palavras com o próprio passado como materialidade histórica.
Esta aparente indiferenciação entre o sucedido e a sua memória é conseguida porque as regras de construção argumentativa do enredo são alargadas à própria concepção de obra, assim fundada em idênticos princípios de verosimilhança - e que, ao integrar na sua textualidade autor e leitor, logra um mais directo diálogo com o leitor extra-discursivo.
A retórica, ou a força do dizer, reunindo concepção de obra, teoria da argumentação e da expressão - e, ainda, pelo menos até ao barroco, teoria da criação, integrando-se por isso nela a poética renascentista -transforma-se também na força dinamizadora e no elemento aglutinados do discurso histórico.
Assimilando e subordinando-lhe as regras do pensar e do falar, verifica-se que muitas narrativas, e algumas concepções, apesar de falarem de história ou defenderem a sua autonomia e necessário reconhecimento, eram coincidentes em termos de enunciação com as regras da força do dizer. Palavra analisada enquanto enunciado e enquanto prática discursiva, não só para os tratados serem avaliados pela
força do que dizem, mas para melhor serem compreendidas as regras que
preconizam, pois foram concebidos enquanto artes e exercícios, segundo
o modelo de imitação clássico 1.
Esta concepção está sintetizada num conjunto de figuras (nº1,
Concepção de obar e Estrutura dos exercícios narrativo), através do
qual se procurou definir e concretizar um rigoroso processo de análise.
A palavra como criadora de sentido histórico, para o Outro (fig. 1)
pretende mostrar os vários elementos e níveis em que se baseou a análise
dos tratados enquanto discursos, sendo a organização desses elementos
apreGentada na figura referente à Concepção de obra ou a força do dizer,
que estabelece os processos de criação e os sentidos advindos da
composição hierárquica da obra - e que reproduz ainda o modelo
precon.izado pelos tratadistas para a história.
-Força do dizer de cuja concretização resulta história (verosímil),
Pela subordinação das faculdades retóricas às condições de
conhecimento e aos caracteres que fundam os lugares de argumentação, e
—ortanto o real
- esta estrutura de análise textual dos tratados está sistematizada na
figura 48, que representa a estrutura dos exercícios narrativos,
evidenciando como a concepção de ser e de escrita condiciona a força e o
ontentUmento da obra e das frases.
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Se a pragmática veio chamar a atenção para o facto de o sentido
resultar não apenas da informação semântica, mas do elo morfosintáctico e
semântico que cada palavra estabelece com os restantes elementos da
frase, dependendo assim predominantemente dos processos
argumentativos desenvolvidos, verificou-se que as histórias, cuja escrita
os tratados regulavam, eram elaboradas segundo as regras de criação,
muitas delas neles definidas, sendo necessário analisar os aspectos
lógico-gramaticais integrados na correspondente estrutura.
E verificou-se, posteriormente, que algumas dessas regras (tal
como as da verosimilhança, da qualidade e da quantidade) revelavam
determinada eficácia por serem participantes numa mesma concepção de
realidade e de conhecimento.
Em consequência, a análise dos tratados e das histórias exigiu a prévia definição dos vários níveis que enformam o sentido das suas palavras.
Por tudo isto se considerou que o título A língua do Ver exprime um conjunto de características que definem a História Moderna: a Língua como primeiro elemento criador de conhecimento, constitutiva do saber moderno e por ele da história; enquanto elemento provocador de comunicação; enquanto língua da fala, que exprime e fixa a diversidade do sucedido em inúmeras e extensas memórias; e, enquanto linguado Ver, como conhecimento do real exterior, intuitivo, moral, experiencial e analítico, e sua expressão narrativa. A Língua do Ver liga portanto os dois núcleos do debate historiográfico moderno: o da conceptualização da história, enunciada nos discursos acerca da sua natureza e da sua escrita; e o do conhecimento do facto histórico, concretizado com a acção dos antiquários, eruditos e falsários, processos sintetizados em Sigalíon, (1683), de Pedro Fernandez del Pulgar, e cuja análise é o epílogo deste estudo. Sigalion, tratado barroco, excepcional na historiografia moderna, por integrar as regras para o conhecimento do passado (exegése do texto e cronologias), numa teorização lúdica sobre a História, limites do seu saber e conhecimento que permite, remete ainda, ao enquadrar a verdade do conhecimento histórico e a doutrina historiográfica na problemática da linguagem, para reflexões sobre o valor da criatividade no conhecimento da realidade empírica e da adequação que se obtem pela sua explicação aparentemente estruturada em linguagem alusiva e metafórica - problemática mais comum na nossa modernidade.
Língua do Ver ainda, porque a força impositiva do discurso histórico assenta numa ideia visual, muitas vezes com forma emblemática; e em artificialismos várioss, sintetizáveis na figura de estilo evidência, que exprime a sua originária estrutura retórica e o integra nas características das formas de expressão da época.
Finalmente, Língua do Ver que funciona como metáfora de história, é ao mesmo tempo uma caracterização do tipo de saber que é o
Em consequência, a análise dos tratados e das histórias exigiu a prévia definição dos vários níveis que enformam o sentido das suas palavras.
Por tudo isto se considerou que o título A língua do Ver exprime um conjunto de características que definem a História Moderna: a Língua como primeiro elemento criador de conhecimento, constitutiva do saber moderno e por ele da história; enquanto elemento provocador de comunicação; enquanto língua da fala, que exprime e fixa a diversidade do sucedido em inúmeras e extensas memórias; e, enquanto língua do Ver, como conhecimento do real exterior, intuitivo, moral, experiencial e analítico, e sua expressão narrativa. A Língua do Ver liga portanto os dois núcleos do debate historiográfico moderno: o da conceptualização da história, enunciada nos discursos acerca da sua natureza e da sua escrita; e o do conhecimento do facto histórico, concretizado com a acção dos antiquários, eruditos e falsários, processos sintetizados em Sigalion, (1683), de Pedro Fernandez del Pulgar, e cuja análise é o epílogo deste estudo. Sigalion, tratado barroco, excepcional na historiografia moderna, por integrar as regras para o conhecimento do passado (exegése do texto e cronologias), numa teorização lúdica sobre a História, limites do seu saber e conhecimento que permite, remete ainda, ao enquadrar a verdade do conhecimento histórico e a doutrina historiográfica na problemática da linguagem, para reflexões sobre o valor da criatividade no conhecimento da realidade empírica e da adequação que se obtem pela sua explicação aparentemente estruturada em linguagem alusiva e metafórica - problemática mais comum na nossa modernidade.
Língua do Ver ainda, porque a força impositiva do discurso histórico assenta numa ideia visual, muitas vezes com forma emblemática; e em artificialismos vários5, sintetizáveis na figura de estilo evidência, que exprime a sua originária estrutura retórica e o integra nas características das formas de expressão da época.
Finalmente, Língua do Ver que funciona como metáfora de história, é ao mesmo tempo uma caracterização do tipo de saber que é o
Geral de Espanha, do Padre Juan de Mariana. Por o primeiro, que reflecte a progressiva necessidade da comprovação material na demonstração de um sucesso (acontecido ou inventado), com o respectivo aperfeiçoamento dos instrumentos críticos e elaboração dos vestígios, estar sintetizado, com ampliação da problemática e inovação na apresentação de métodos, em Sigalíon, de Pedro Fernandez del Pulgar; e o debate gerado à volta da Historia, de Mariana, exigir um prévio conhecimento das regras do conhecer e do dizer histórico, enquanto desenvolvimento argumentativo, ou narrativa-refutação de um facto, considerou-se que a análise dos tratados, na perspectiva inicialmente referida, era a mais completa forma de entender a expansão historiográfica renascentista'. |
URI: | http://hdl.handle.net/10174/11028 |
Type: | doctoralThesis |
Appears in Collections: | BIB - Formação Avançada - Teses de Doutoramento
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