Ecomicrobiologia e Fermentação no Retículo-Rumen de Ovinos, com Dietas à Base de Bolota

Abstract

Este trabalho reporta-se a uma série de estudos realizados "in vivo" e "in vitro", com o objectivo de seguir e caracterizar as modificações operadas no ecossistema retículo-ruminal de ovinos alimentados com bolota, nas condições da pastagem de montado em anos de baixa precipitação pluviométrica. Durante a adaptação a que os animais foram sujeitos no intervalo de 1 mês, Diploplastron affine, Polyplastron multivesículatum, Diplodinium sp., Ophryoscolex sp.,-Isotricha sp. e Dasytricha ruminantium" desapareceram da dotação que os animais apresentavam antes do início do período da adaptação. Os Entodiniinae sofreram profundas alterações no seu espectro específico. Assim, as formas de pequena dimensão (Entodinium exiqum, E. nanellum, E. brevispinum) foram gradualmente diminuindo a sua população e em contrapartida as formas de maiores dimensões (E.lonqinucleatum e E. bursa) foram gradualmente ganhando expressão populacional. A incorporação de 70% de bolota nas dietas contendo 8,5% PB, baixou expressivamente a população bacteriana e a, população de ciliados. A suplementação destas dietas com níveis mais elevados de PB (11 % e 14%) provocou um aumento significativo (P<0,01) da população de, ciliados e das bactérias, e a subida de todos os parâmetros fermentativos. A inclusão de PEG nas dietas diminui significativamente (P<0,01; as populações de ciliados, nas suplementações azotadas de 11 e 14% PB. Foi possível reimplantar no retículo-rumen dos animais algumas espécies de ciliados desaparecidos no período em que os animais foram sujeitos à adaptação com bolota. Foi Possível reimplantar Diploplastron affine, Polyplastron multivesiculatum e Isotricha sp.. Porém, Dasytricha ruminantium e Ophryoscolex sp. não tiveram capacidade para recolonizarem o retículo-rumem. A reímplantação no retículo-rumen de Diploplastron affin e Polyplastron multivesiculatum, aumentou a capacidade fermentativa do conteúdo retículo-ruminal relativamente a degradação da celulose. No entanto5 a fermentação do substracto que os animais estavam a ingerir foi fermentado a uma taxa mais baixa. 0 inóculo proveniente dos animais adaptados à bolota e mais refractário relativamente à acção deletérea dos taninos, quando comparado com inóculos provenientes de animais não ingerindo bolota. Parece por conseguinte, que os animais alimentados com bolota durante muito tempo, seleccionam uma população bacteriana que tolera grandes quantidades de taninos na solução onde se encontram, e que podem representar até cerca de 4% da população bacteriana total. 0 estado de maturação da bolota é determinante nos efeitos deletéreos que exercem sobre as bactérias e ciliados do retículo-rumen, como também sobre o desenvolvimento do processo fermentativo global. Assim, a incorporação de 5% de PEG4000 provocou um aumento muito significativo no número de bactérias viáveis e no número de ciliados em processo de divisão, tendo a interacção com estado de maturação sido muito significativa (p<0,01). As interacções % de incorporação de bolota x estado de maturação e estado de maturação da bolota x PEG influenciaram significativamente (P<0,01) as produções de gás ás 6h de fermentação. Ás 24h as diferenças não foram significativas. Níveis de PB superiores a 8,5 % não permitiram evidenciar qualquer acção por parte, dos taninos na bolota em estado de maturação mais avançado. No entanto, com a bolota em estado verde o efeito é perfeitamente manifesto. A fermentação dos componentes da fibra vegetal, particularmente a celulose foram significativamente (P<0,01) afectados com a incorporação de EE de bolota nas percentagens ingeridas pelos animais alimentados com dietas integrando 70% de bolota. A substituição da palha por folhas de Quercus ilexy aumentou significativamente as produções de gás (P<0,001) às 6 h de incubação e aumentou significativamente (P<0,01) o número de ciliados. A substituição por folhas de Q. suber teve um efeito negativo tanto nas produções de gás como nas populações de cilíados. A substituição por folhas Olea europea, aumentou a produção de gás às 6h de incubação. Porém às 24 h a tendência foi exactamente a oposta, tendo baixado as produções com a substituição.