Contributo da Perspectiva para a Salvaguarda de Monumentos Históricos

Abstract

"Sem resumo feito pelo autor"; - Na multiplicidade de caminhos que hoje se abrem em qualquer ramo da ciência, a escolha de um, com vista à realização de um trabalho da envergadura de uma dissertação de doutoramento, exige uma profunda reflexão. A par dos aspectos de actualidade e de originalidade do tema, com peso decisivo na escolha, outros factores foram igualmente ponderados e parece útil fazer-lhes referência, pois, além de contribuírem para melhor explicitar o objecto do trabalho, transmitem também a noção da forma como este foi construído ao longo do tempo e como se desenvolveu. A perspectiva, como componente de uma ciência que permite elaborar com rigor a concepção de formas e comunicar essa concepção através de imagens impressivas, proporciona ao arquitecto o prazer profissional sempre útil para a progressão harmoniosa de um trabalho. A relação desta ciência, suporte do trabalho de concepção em Arquitectura, com a actividade que resulta do crescente interesse em preservar o património arquitectónico, considerado como documento histórico revelador do percurso cultural dos povos, pareceu poder conciliar dois interesses significativos que podem valorizar-se reciprocamente, nas áreas da perspectiva e da salvaguarda do património construído. Acresce ainda a circunstância de se tratar de temas cujos conhecimentos se encontram em estádios diferentes de desenvolvimento, podendo dizer-se que a perspectiva se encontra no auge das suas possibilidades, enquanto a salvaguarda do património construído, em termos científicos, começou a dar os primeiros passos no século XIX e está a uma distância considerável da sua consolidação, como se pode constatar por uma certa imprecisão na definição de conceitos como os de conservação, restauro e renovação. No entanto, outras circunstâncias mais prosaicas pesaram também na escolha do tema e estas encontram-se no percurso que a autora deste trabalho teve que fazer na Universidade de Évora. Começou a sua a actividade no Departamento de Matemática, com a responsabilidade da regência das disciplinas de Geometria Descritiva, Métodos Gráficos 1 e II, e Temas Integrados de Desenho, compreendidas no currículo do Curso de Ensino de Matemática e Desenho e em que parecia estar ainda presente um conceito semelhante ao que William Griswold Smith exprime na nota histórica que abre o seu livro " Practical Descriptive Geometry ": O estudante, através do seu estudo pode adquirir a capacidade de analisar de forma lógica e pode desenvolver uma penetrante capacidade de discemimento e de visualização. Este é o maior beneficio que o estudo de Geometria Descritiva pode proporcionar." ( 1 ) Para as Provas de Aptidão Pedagógica e Capacidade Ciêntifica realizou um trabalho sobre o tema : " Estudo das sombras de um objecto em perspectiva rigorosa” e, em extensão desses conhecimentos, propos-se elaborar a dissertação de doutoramento com um tema sobre o estudo de superfícies curvas, de revolução e empenadas em perspectiva rigorosa, tema, aliás, aceite pelo Conselho Científico da Universidade. O currículo daquele Curso foi alterado, deixando de abranger a área de desenho, mas mantem, por enquanto, a disciplina de Geometria Descritiva. A perda de peso desta área determinou a mudança da responsabilidade da regência desta disciplina para o Departamento de Planeamento Biofísico e Paisagístico e, consequentemente, a transferência da docente para este Departamento, em 1992. A necessidade de integração nos interesses deste Departamento e o desejo de não alterar muito o trabalho de pesquisa e de estirador já realizado, sobre o tema antes mencionado, determinaram um ajustamento do tema que estava a ser trabalhado para o actual. A decisão para a escolha do tema foi ainda fundamentada nos conceitos que se enunciam: – Qualquer trabalho, mesmo sem o ser explicitamente, poderá, desde que seja feito com cuidado e empenho, considerar-se sempre como uma homenagem às pessoas com quem aprendemos, pois a maior parte dos nossos conhecimentos não tem geração espontânea e é esse reconhecimento que a autora pretende deixar expresso. A este respeito recordamos um pensamento de Confúcio, citado por Eduardo Torroja M i ret, em " Razon y ser de los tipos estruturales Tão inútil é aprender sem meditar, como é perigoso pensar sem antes haver aprendido com outros.* ( 2 ) – Os métodos utilizados para a representação em perspectiva são tão úteis para o estudo e criação de formas como para o estudo e entendimento de espaços e formas já existentes tendo em vista a sua salvaguarda e, por isso, nos pareceu de interesse explorar este campo. Na nossa opinião isto é significativo, pois encontram-se, por vezes, ideias expressas por autores que esquecem a sua existência. É o caso, por exemplo, de Mendes Atanázio na Introdução Crítica à "Arquitectura do Renascimento em Portugal" de Albrecht Haupt: Na Arquitectura interessa, antes de tudo, perceber o seu espaço e estrutura a partir da planta, alçados e cortes transversais e longitudinais. " ( 3 ) A perspectiva permite que nos sintamos dentro dos espaços a conceber ou a apreciar e dá-nos uma melhor oportunidade de os apreender. Neste aspecto parece de interesse recordar uma opinião de Sir Christopher Wren, transcrita em " Los tratados de arquitectura de Alberti a Ledoux " obra coordenada por Dora Wiebenson: ' ... antes de tudo, o arquitecto deve dominar a perspectiva tendo em atenção que uma maquete é vista de outras posições diferentes daquelas sob as quais o olho vê o edifício, o que está bem em perspectiva, e se mantém assim em todas as vistas principais, quer estas sejam directas ou oblíquas, estará igualmente bem em grande ... " (4)